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Tendências para a gestão da saúde suplementar regulada em 2024

0372 – 12/12/2023

Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Infelizmente 2023 não está sendo o ano que as operadoras esperavam !

 

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

Não vou citar aqui a saúde suplementar não regulada ... que vai muito bem obrigado:

·        Para ela a tendência é expandir a cada ano, como tem sido antes, durante e depois da pandemia

·        Em outros textos durante o ano que vem, me comprometo a comentar a expansão deste mercado que não é regulado pela ANS e, talvez por isso, projeta um 2024 próspero para toda a cadeia de valores envolvida nela.

Vou me ater aqui na saúde suplementar regulada pela ANS ... a que tem a ver apenas com operadoras de planos de saúde ... e somente as reguladas pela ANS ... e alguns reflexos com os seus parceiros de negócios.

Confesso que poucas vezes fiquei tão ansioso pela divulgação dos dados da ANS como fiquei este ano:

·        Também confesso que ficava antes muito mais irritado com o “delay” das informações da ANS, que tanto prejudicam os projetos de planejamento !

·        Mas, como a maioria das coisas no Brasil que parecem que nunca vão mudar, a gente acaba se conformando ... por mais danos que nos causem, acabamos achando o absurdo normal ... banalizando os absurdos;

·        A ansiedade se devia ao fato de que, como todos os gestores que atuam na saúde suplementar regulada, aguardávamos um 2023 como sendo um ano de recuperação acelerada ... o primeiro semestre não foi o que esperávamos ... e 2023 vai se mostrando não foi o pior dos anos da história ... mas um ano longe de ser animador !

O gráfico fala por si:

·        Demonstra a evolução do percentual de operadoras de planos de saúde que fecham suas contas com prejuízo;

·        O resultado, lucro ou prejuízo, é calculado pela diferença do total de receitas em relação ao total de despesas, ambas declaradas pelas operadoras para a ANS;

·        Quem é do ramo sabe que existem “milhões de vieses” neste números, mas como indicadores de tendência são absolutamente confiáveis.

Em 2019 tínhamos “apenas” ~14 % de operadoras com prejuízo:

·        Batemos o recorde histórico de ~60 % no terceiro trimestre de 2022;

·        O indicador retrai para ~49 % um ano depois ...

·        ... mas todos esperavam um resultado muito diferente ... quase metade delas “vendendo o almoço para pagar a janta” não era o que se esperava como resultado no segmento.

Vale reforçar que não são os dados do fechamento de 2023:

·        Se Deus quiser ... somente se Ele quiser ... vamos ter os dados do fechamento de 2023 somente lá para maio de 2024 ...

·        ... o irritante delay que “temos que engolir” há anos ...

·        ... já é danoso estarmos somente em dezembro de 2023 tendo acesso aos dados do fechamento de setembro de 2023 ... imagine planejar o ano que vem sem dados que só serão disponibilizados quase 6 meses após !

·        De qualquer modo, é muito difícil que este cenário do fechamento do terceiro trimestre de 2023 se “modifique da água para o vinho” em apenas um trimestre restante ... que, inclusive, não costuma ser “o sonho de consumo” da rentabilidade das operadoras de planos de saúde !

 

 

Os números são mais desanimadores quando a gente estratifica separando as operadoras que comercializam assistência médica e odontológica, das que comercializam planos exclusivamente odontológicos.

“Olhando” somente as operadoras que comercializam assistência médica e odontológica (barras azuis):

·        O recorde de operadoras com prejuízo foi no fechamento de 2022 ...

·        ... batendo impressionantes ~64 %;

·        E mesmo retraindo ~13 pontos percentuais, são proporcionalmente mais graves do que o índice geral comentado no gráfico anterior !

E se olharmos as operadoras que comercializam planos exclusivamente odontológicos:

·        Não tínhamos praticamente nenhuma em 2019 com prejuízo ... era um verdadeiro “mercado paraíso”;

·        Batemos o recorde de operadoras com prejuízo no fechamento de 2022 com ~37 % das operadoras !

·        E mesmo com o indicador retroagindo, estamos no terceiro trimestre de 2023 com aproximadamente 1 a cada 3 com prejuízo !

Porque o “negócio odontologia” para estas operadoras sofreu “2 golpes” simultaneamente:

·        O “baque” da pandemia ... e o baque do “apetite voraz” das seguradoras e medicinas de grupo em abocanhar o mercado delas ... com uma agressividade comercial sem precedentes;

·        Sair de 2 % de operadoras com problemas em 2019 e chegar em ~34 %, é um indicador extremamente preocupante para elas ... muito mais preocupante do que os indicadores das outras !

Como a reforma tributária ainda vai afetar muito mais elas do que as outras (vide posts sobre a reforma tributária), o cenário é mais do que desanimador para elas !!

 

 

Quando falamos de operadoras de planos de saúde sempre temos que estratificar ... estratificar ... estratificar ...

·        Porque a regulação da ANS “mistura” todas como se fossem empresas praticamente iguais ... com objetivos sociais praticamente iguais ... com produtos praticamente iguais ...

·        ... e na verdade tudo é muito diferente;

·        Ao analisar lucro e prejuízo, a primeira coisa a fazer é separar as com fins lucrativos das sem fins lucrativos.

O gráfico isola as sem fins lucrativos das com fins lucrativos:

·        Porque lucro ou prejuízo nelas tem um significado e um “endereçamento” de ações muito diferente das demais;

·        A maior parte das autogestões, por exemplo, a gente pode fazer uma analogia como se fosse “um condomínio”;

·        Os “condôminos” (os beneficiários) são os donos do negócio, e nesta época do ano planejam quanto será o “valor do condomínio” para arcar com as despesas do ano que vem;

·        Os condôminos tendem a estabelecer um valor pequeno, e se for o caso fazer uma assembleia durante o ano para ajustar as contas caso o dinheiro “não dê” ...

·        ... porque não vão querer “desembolsar” dinheiro a mais para ficar nas mãos do síndico ...

·        ... melhor o dinheiro ficar no próprio bolso de cada condômino, e se for o caso fazer uma assembleia para definir uma arrecadação extra se for necessário ... não é verdade ?

Então, no caso delas, prejuízo, boa parte das vezes, é “um risco calculado” para o exercício:

·        Pode ser erro de planejamento ... pode ser falta de previsibilidade de despesas ... pode ser desvio para o bolso do síndico e dos seus “ comparsas”;

·        Tanto que em 2019 já existiam cerca de 30 % das sem fins lucrativos com prejuízo ...

·        ... antes da pandemia !

Mas, sem dúvida, um aumento de praticamente 100 % o volume de sem fins lucrativos com prejuízo ... “soa o alarme”:

·        Apesar de 2020 ter sido “o ano dos sonhos” delas ... os anos seguintes têm sido de “de tirar o sono”;

·        E 2023, definitivamente, está longe de ser o ano que a reunião de condomínio imaginou no final de 2022 !!

 

 

Quando observamos as “com fins lucrativos”:

·        A “coisa foi ficando feia” já a partir de 2021 ... mesmo durante a pandemia o cenário “já pintava como catastrófico”;

·        Em 2022 foi “o caos”, com todos os tipos batendo recordes de operadoras com prejuízo;

·        E em 2023 a quantidade de operadoras com prejuízo retraiu, mas ainda está em níveis elevadíssimos;

·        Cooperativas saindo de 7,5 % para 44,4 % ... e medicinas de grupo de 23,6 % para 52,4 %;

·        No caso das seguradoras este indicador tem o viés de existirem apenas “uma meia dúzia” delas ... em quantidades pequenas, a variação de 1 ou 2 unidades acaba elevando muito a evolução percentual ... mesmo assim, no caso delas o indicador também serve para reforçar o perfil e a tendência, que é o que estamos discutindo aqui no texto.

É pouquíssimo provável que haja uma grande mudança de cenário quando tivermos os dados do quarto trimestre de 2023.

 

 

“Para não dizer que não falei das flores” ...

·        Estratificando as operadoras que comercializam planos exclusivamente odontológicos ... que loucura !

·        Não tínhamos em 2019 uma única operadora do tipo cooperativa odontológica com prejuízo ... agora quase um terço delas apresenta o resultado “com tinta vermelha” !

·        E tínhamos 2 % de odontologias de grupo com prejuízo ... em 2023 40 % delas ... e o recorde foi agora, em 2023, e não nos anos da pandemia ! ... que loucura !

 

 

Sempre que tratamos deste assunto ... rentabilidade de operadoras ...

·        ... quem é do ramo sempre tende a comparar cooperativas médicas e medicinas de grupo ...

·        ... porque são o maior contingente de operadoras existente ...

·        ... e porque brigam pelo mesmo mercado;

·        As demais operadoras (autogestões, filantropias e seguradoras) estão em outras fatias de mercado ... até brigam com cooperativas e medicinas de grupo, mas com intersecção de mercado pequena em relação carteira de clientes deles.

E sempre está presente nas consultorias e aulas a questão de analisar o contexto para não ser traído pelos números ...

·        O gráfico da esquerda demonstra não os percentuais, mas os números absolutos de operadoras com lucro;

·        E o gráfico da direita o número total de operadoras;

·        Em análises mais específicas de determinados cenários da geografia econômica da saúde no Brasil, é necessário verificar se o percentual se refere a denominadores que não variam .., se o denominador variar pode induzir análises inadequadas.

No caso dos denominadores dos cálculos destes percentuais ... eles variam de forma não proporcional ... como podemos perceber nestes gráficos:

·        Enquanto tivemos redução de 10 operadoras do tipo cooperativa médica quando comparamos a quantidade de operadoras existentes em 2019 com 2023 ... o que representa algo em torno de 3,6 % ...

·        ... no caso de medicinas de grupo a redução foi de 17, o que representa algo em torno de 7 % ... quase o dobro !!

·        Precisamos juntar as duas informações, porque uma operadora que poderia estar dando prejuízo, aumentando o indicador de operadoras com prejuízo, faliu, reduzindo a relação em relação ao total.

E aproveitando a ilustração ... vale chamar a atenção para o fato de que apenas entre 2019 e 2022 tivemos 27 operadoras destas modalidades que encerraram suas atividades ... o que é muito comparado com a série histórica anterior !

Todos estes indicadores demonstram “por A + B” que a tendência da saúde suplementar regulada para 2024 ainda é de um ano de recuperação ... mas de uma recuperação que está sendo muito mais lenta, e muito menor do que gostaríamos ... e olhe: com risco de agravamento desta crise !

Em vários posts comentei que a maioria das operadoras e dos serviços de saúde, especialmente os hospitais, ainda não entendeu o recado: o mercado mudou ... é preciso entender: o mercado mudou ... os números estão aí para quem quiser ver, e vale repetir tantas vezes quanto for necessário: o mercado mudou !

A “teimosia” de tentar reverter o período de “vacas magras” com as mesmas práticas comerciais de antes da pandemia ...

·        ... de basear a sustentabilidade de operadoras e serviços de saúde na capacidade de negociar reajustes de preços em tabelas que nunca foram realmente referências ...

·        ... da operadora espremer o serviço de saúde ... do serviço de saúde espremer a operadora ...

·        ... de ficar achando que pacotes inviáveis podem salvar a sinistralidade da operadora ... que podem compensar a perda de produção do serviço de saúde ...

·        ... de se preocupar com o fechamento do próximo balancete, sem pensar no médio e longo prazos cujo resultado depende de ações de prevenção e diagnóstico precoce dos paciente ...

·        ... de basear a relação comercial na desconfiança ... na presunção de “erro, desperdício e fraude intencionais do lado de lá”,  como se todos os parceiros comerciais fossem “malandros” ...

·        ... de continuar remunerando pelo mesmo preço o procedimento de qualidade boa ou ruim ... do evento adverso continuar ocorrendo na mesma proporção, e continuarmos pagando por eles ...

·        ... do serviço de saúde continuar baseando sua precificação em eventos fragmentados, e não em ciclos de atendimento ...

·        ... de dar foco no cálculo do custo ao invés de dar foco na redução do custo sem afetar a qualidade assistencial ...

·        ... todas estas práticas têm sua aplicação “no varejo”, são muito eficientes para “brigar com o outro” ...

·        ... mas perderam a eficácia “no atacado”.

Neste cenário, a palavra-chave é “parceria”:

·        Entre fonte pagadora, serviço de saúde e fornecedor de insumo;

·        Enquanto cada um estiver em um lado da mesa, todos vão continuar perdendo ... o mercado vai continuar em crise !

Não sou eu quem está dizendo isso ... são todos estes números que estão dizendo: todo mundo continua fazendo a mesma coisa, mas o mercado mudou !!!!!

A tendência do que vai acontecer em 2024 para quem não quebrar estes paradigmas é bem fácil de prever: o mesmo que ocorreu em 2022 e 2023 ... exatamente isso que estes números mostram !!

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Sobre o autor Enio Jorge Salu

CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado