![]() |
![]() |
||
Ainda tem quem acredita que plano de saúde vai baratear no futuro
0380 – 19/02/2024
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Plano de saúde que realmente adere a necessidade da população não tem como não encarecer ao longo do tempo
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Perdi a conta das vezes que a Prof. Alexandra Bulgarelli me convidou para dar aulas em turmas de pós-graduação do SENAC ... sempre agradeço muito a oportunidade ... muito obrigado !!! ... e como estou iniciando minhas aulas em 2 novas turmas em 2024, uma pós em Gestão de Planos de Saúde, e outra pós em Gestão de Saúde, achei oportuno agradecer com um post de um assunto que comentei com os alunos logo na primeira aula com eles.
Estas últimas semanas, em relação a gestão da saúde, tiveram um certo protagonismo as discussões sobre os planos de saúde nos Estados Unidos, por conta do caso Tony Snell que sensibilizou uma boa parte da população americana.
Para quem não tomou contato com o caso:
· Um jogador da mais rica liga de basquete do mundo, lutou para conseguir a renovação do seu contrato por mais um ano;
· Quando um jogador da liga se aposenta, se tiver tido contrato em 10 temporadas ou mais, tem direito ao benefício plano de saúde ... senão não !
· E ele estava buscando atuar pelo menos mais uma vez para ter este benefício ... porque filhos que necessitam de terapias relacionadas ao espectro de autismo, e sem o benefício teria dificuldade em “bancar” o tratamento !
E o evento “flertou” com duas discussões que protagonizam o mercado da saúde suplementar no Brasil nos últimos anos, que inclusive foi citado em vários postagens que fiz no ano passado:
· Como é difícil “fechar a conta” quando a implementação de novas tecnologias em saúde, como a Terapia ABA citada nesta caso ... quando se incorpora uma tecnologia sem dar opções de captação de recursos que evitem o desequilíbrio de contratos e a inviabilização de algumas formas de contratação de planos de saúde;
· E como plano de saúde tende a ser mais caro ao longo do tempo, a ponto de nos Estados Unidos, mesmo para atletas de esportes de alto rendimento, que estão longe de serem considerados “de classe média” ... não conseguirem arcar com o financiamento do próprio plano de saúde.
As discussões aqui focaram em como o modelo de regulação adotado no Brasil, que imita o americano, não tem saída:
· Ou o produto plano de saúde para ser acessível tem que restringir ao máximo o acesso, indo na linha exatamente contrária do que deveria ir ... com planos baratos que ao invés de oferecer acesso a saúde, oferecem “vapor” ... e inundando o mercado com reclamações, multas, judicialização ...
· ... ou o produto plano de saúde vai encarecendo absurdamente, sendo acessível a uma parcela cada vez menor da população;
· O que está acontecendo aqui é exatamente isso: cresce o número de beneficiários de planos cada vez piores, e os privilegiados que tem acesso a planos realmente aderentes à necessidade, com o mínimo de pedaladas para restrição de uso ... estes privilegiados têm que pagar cada vez mais caro, em um “ciclo vicioso” de reduzir a carteira de beneficiários, naturalmente aumentando o preço.
É bom que se enfatize: para alguma coisa nos Estados Unidos ser chamada de “cara”, em um país em que o poder aquisitivo da população é dos maiores do mundo ... é porque é cara de verdade ... ilustrado pelo fato de um “star da NBA” se preocupar em não se aposentar sem o benefício ... não é mole não !
O caminho que a regulação da saúde suplementar seguiu no Brasil vai deixar cada vez mais a população “nas mãos de Deus” ...
· O que a maioria dos discursos que são “jogados na mídia” por puro interesse de uma minoria ... o que alguns “especialistas” estão afirmando categoricamente ...
· ... que saúde suplementar regulada pela ANS sofreu com a pandemia, em breve vai se recuperar e o preço dos planos vai voltar a tender a ser mais acessível ... não é verdade !
· É verdade que algumas operadoras sofreram com a pandemia e em alguns anos vão se recuperar totalmente ...
· Mas que os planos de saúde vão voltar a ficar mais acessíveis ... não é verdade;
· As operadoras vão se recuperar ou oferecendo “vapor” por um preço mais barato ... ou cobrando o justo, e isso significa muito mais caro, pelo plano minimamente “decente” !
Quem prestar atenção nas manchetes que permeiam a saúde suplementar no Brasil, e não tiver interesse em inserir algum viés nas análises, certamente vai concluir que o que norteia empresas envolvidas não tem muito a ver com saúde:
· O que se discute é lucro e prejuízo, desvinculando completamente a evolução da qualidade dos produtos com a margem de rentabilidade que ele proporciona para as empresas que “comercializam” planos de saúde;
· Quando grafamos comercializam, tiramos da discussão deste tópico ... especificamente deste tópico ... as empresas que não comercializam ... empresas que operam planos de saúde, mas não com objetivo comercial, e sim pela missão que elas têm ... pelo objetivo social das mantenedoras delas ... por exemplo: as autogestões !
E assim as discussões são sempre tratando o produto plano de saúde da mesma forma como se tratam os produtos “investimento”, “ações”, “debêntures” ... desvinculam completamente o plano de saúde de algo cujo foco prioritário seria a entrega de assistência médica e/ou odontológica para alguém que necessita.
Então se discute a disparidade entre o reajuste que as operadoras de planos propõem para sua rede credenciada, e o reajuste que aplica no que cobra dos seus beneficiários:
· Enquanto a média de reajuste de preços aplicada aos que pagam os planos de saúde em 2023 foi acima de 25 %, segundo estudos realizados por instituições de ilibada reputação ...
· ... operadoras tentam negociar reajustes de IPCA nos contratos com as empresas que formam a sua rede credenciada;
· Não importa se estes 10 % ... 15 % ... de inconsistência que provoca desequilíbrio financeiros nestes contratos vai se configurar em redução da qualidade assistencial ... em redução de acesso do beneficiário à rede credenciada, especialmente a que oferece serviços de melhor qualidade ...
· ... nada disso está na pauta !
· O que está na pauta é reduzir o custo ... a sinistralidade no idioma das fontes pagadoras ... para aumentar a rentabilidade (a margem) na operação do plano ... é disso que se trata !
Então se discute o descredenciamento de instituições centenárias:
· Como se elas estivessem “nadando em lucro”, e seus dirigentes “enchendo os bolsos de dinheiro” ...
· ... quando na verdade o que se deseja é explorar ao máximo instituições que, na maioria absoluta dos casos, não têm competência comercial para lidar com quem “vive desta competência comercial” ...
· ... que pode não ter competência assistencial para cuidar da saúde dos beneficiários, mas tem competência comercial para rentabilizar melhor a operadora !
Então se discute a variação do preço das ações de operadoras:
· Nunca vemos a discussão se a variação positiva ou negativa se deve a melhoria ou piora da atenção à saúde dos beneficiários;
· Vemos aumento do valor das ações quando se dispara na mídia uma notícia sobre aporte de capital estrangeiro ...
· ... vemos meras especulações sobre movimentos societários como fusão, IPO, aquisição;
· Nunca os reflexos no valor das ações relacionada a intenção de compra do cliente em função da entrega de um produto melhor ... de um produto inovador ... de um produto mais abrangente ...
Este é o cenário real ... e este cenário real se deve a forma como a regulação do setor é feita ... se deve ao caminho que o governo escolheu para regular o setor ... que se a “gente se libertar das amarras” e analisar friamente, sem vieses, é muito claro ... muito fácil de entender ...
O modelo de negócios dos planos de saúde se baseia na repartição, e não na capitalização, como é, por exemplo, a previdência social do governo (o que as pessoas chamam comumente de aposentaria pelo INSS):
· Existem pessoas que trabalham, ou empreendem ... existem empresas ... que contribuem para o INSS;
· Com este dinheiro o governo federal financia a assistência social (o bolsa família, por exemplo), a saúde (o SUS) e a previdência social (a aposentadoria).
Então, no caso da aposentadoria:
· Existem mais pessoas contribuindo (pagando) do que recebendo o benefício (as aposentadorias);
· O dinheiro pago por uma pessoa não é “guardado” durante todos os anos que ele paga para financiar a sua aposentadoria (quer seria o regime de capitalização);
· O dinheiro pago pelas pessoas se mistura e se paga os aposentados ... alguns que eventualmente nem contribuíram tanto tempo, e as vezes nunca contribuíram (uma parte das aposentadorias que se refere a aposentadoria por idade e/ou por invalidez ...) ...
· ... ou seja, o dinheiro arrecadado por quem trabalha / produz é repartido entre os que recebem as aposentadorias.
Este regime só tem chance de dar certo enquanto tivermos mais gente pagando do que recebendo !
· Se fossemos traçar um gráfico comparando a quantidade de pessoas que pagam e a quantidade de pessoas que recebem ao longo do tempo, teríamos um gráfico como o primeiro (o de cima);
· Temos cada vez maior proporção de pessoas que recebem aposentadoria do que pessoas que contribuem para a aposentadoria;
· Por isso o governo promoveu uma reforma na previdência para “barrigar” um pouco mais a concessão da aposentadoria para as pessoas ... e logo logo vai propor uma nova reforma para barrigar por mais um tempo ... e assim sucessivamente;
· Este movimento é, por exemplo, o que provocou manifestações grandiosas na França, quando o governo precisou dar uma “barrigada a la francesa”.
Com planos de saúde acontece a mesma coisa:
· É o que ilustra o gráfico de baixo ... se fossemos traçar um gráfico que demonstra a relação de quem paga e quem utiliza, as linhas teriam esta característica;
· Temos, proporcionalmente, cada vez mais gente utilizando do que pagando;
· E com um agravante ... praticamente todo mundo que paga, utiliza mesmo que um pouco ... mesmo que não seja um grande gasto ... utiliza para consultas e exames;
· Para que o modelo funcione, já que uma grande parte de quem paga usa, não existe segredo: o preço a ser pago tem que ser cada vez maior;
· O preço é cada vez maior não somente porque a população envelhece ... não somente porque a tecnologia da saúde avança e isso custa mais caro ... é cada vez maior porque a proporção de quem utiliza, em uma sociedade que vai aos poucos se conscientizando da necessidade de prevenir doenças, e que vai tendo acesso em recursos que não existiam no passado !
E na saúde temos um segundo agravante em relação às aposentadorias:
· A “matemágica” dos argumentos das reformas previdenciárias não se limitam apenas a barrigar a concessão do benefício ... impõem benefícios proporcionalmente de valores cada vez menores;
· “O trabalhador” vai começar sempre a receber cada vez mais velho, um benefício de valor cada vez menor;
· Se fossemos traçar um gráfico relacionando o valor do benefício aposentadoria em relação ao valor da contribuição para aposentadoria, seria a linha azul do gráfico ... tendendo a reduzir ao longo do tempo.
Já no caso de planos de saúde é o contrário:
· Com a concorrência do mercado a tendência é sempre a operadora reduzir um pouquinho da sua margem de lucro;
· A parcela do custo assistencial que compõe o preço fica proporcionalmente cada vez maior;
· Se traçássemos uma linha ao longo do tempo, seria a de cor laranja do gráfico.
Enquanto o Brasil não repensar saúde suplementar inserindo elementos na regulação relacionados a capitalizar parte do valor pago pelo beneficiário ao plano de saúde ... enquanto continuarmos 100 % no regime de repartição ... não existe mágica que possa fazer este cenário mudar.
Vamos ter aqui jogadores de futebol da série A se movimentando em sindicatos para inserir plano de saúde para ele e seus familiares como benefício que a CBF terá que conceder para quem “pendurar a chuteira” ... eles e os empresários deles, se é que me entende !
Consultoria e Coaching de Carreira para gestores na área da saúde privada e pública www.escepti.com.br
Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde para gestores da saúde privada e pública www.cpgs.net.br
Jornada da Gestão em Saúde de cursos abertos e “in company” www.jgs.net.br
Lista de milhares de profissionais certificados www.escepti.com.br/certificados
Conteúdo especializado para gestores da área da saúde privada e pública www.noticia.net.br
Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e seminários temáticos www.gesb.net.br
Modelos para gestão em saúde (livros gratuitos para download) www.escepti.com.br
Contato contato@escepti.com.br
Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado