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Dengue só vem comprovar que não aprendemos nada com a pandemia
0381 – 25/02/2024
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Autossuficiência em saúde: tão fácil e tão distante
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Nesta semana vou ministrar uma aula na pós-graduação do Einstein, disciplina Panorama da Saúde no Brasil, que sempre agradeço a oportunidade para as Profas. Glauce Roseane de Almeida Brito e Deise de Carvalho ... então é oportuno para mim sobre esta disciplina comentar algo que a maioria dos gestores de saúde “da minha geração” mais indignados ... mais inconformados !
Quando o meu Santos estava “cai não cai” no brasileirão do ano passado eu dizia: será uma pena se não cair, sendo que a diretoria e jogadores estão se esforçando tanto para que caia ... e “deu no que deu” ... a justiça foi feita e estamos merecidamente na série B !
Me desculpe a comparação, mas em relação à saúde o governo brasileiro se esforça para fazer o Brasil passar ridículo:
· Não adianta a história mostrar que saúde não é somente uma obrigação governamental ...
· ... é uma oportunidade de desenvolvimento econômico, das maiores que a sociedade moderna oferece !
· Infelizmente “o carma” brasileiro é o de ignorar o que tanto a história das doenças, como quanto lucram os países cujo carma é “um pouco” mais inteligente do que o nosso !
Entra governo, sai governo, e a saúde no Brasil vai caindo da “série A” para a B, da B para a C ... sinceramente, é difícil saber, sob o aspecto de entender que saúde é custo, mas pode ser muito mais receita do que custo ... qual a série do campeonato estamos disputando ...
· W, X, Y, Z ... ?
· A decepção com este governo é inevitável ...
· ... este próprio partido passou por epidemias no passado e não “virou a chavinha”;
· Mas o anterior passou por uma pandemia “e não virou a chavinha” também;
· O atual, mesmo com uma personalidade no comando do ministério oriunda do maior instituto de pesquisa brasileiro, infelizmente não está virando a chavinha ... o “pano de fundo” do assunto é enfrentamento das epidemias e pandemias agora ... não é adquirir maior sustentabilidade para enfrentar as epidemias e pandemias sempre !
Entendendo: este assunto, da forma como está sendo colocado aqui não é questão de discussão ideológica, partidária, religiosa ... o problema é que “não é questão colocada na mesa para discussão” ... é ignorado pela esquerda, direita, centro ... esta é a questão que se coloca aqui !
É bom ressaltar que nenhuma crítica aqui é posta ao que se está fazendo para enfrentar a dengue:
· Muito pelo contrário ... nem teria competência ou elementos para criticar;
· O que se coloca é que nada é feito para que o Brasil deixe de ser humilhado pela absoluta insuficiência de recursos próprios para enfrentar esta epidemia ... e todas as outras que virão;
· Fomos humilhados durante a pandemia ... estamos sendo humilhados por esta epidemia ... e se vier uma “Mega Chikungunya” ... se voltarem com muita força as outras que já nos impingiram epidemias no passado ... vamos continuar sendo cada vez mais humilhados na comunidade internacional !
· Porque não estamos nos preparando para não depender dos países que estão lucrando muito com esta nossa incompreensível vontade de nunca atingirmos patamares mínimos de autossuficientes quando o assunto que se coloca é saúde !
E veja ... citando aqui no texto a Dengue ... mas “para cada cavoucada na Internet se acha uma minhoca” ... é só experimentar: temos sífilis, aumento preocupantíssimo de casos de COVID, e várias outras doenças que nem estão na pauta da mídia ... não são protagonistas hoje ... mas podem ser em um futuro muito mais próximo do que podemos imaginar !
Nossa dependência é “patética” especialmente em função de alguns aspectos:
· O primeiro, e mais fundamental, e que somos o 7º maior mercado consumidor de medicamentos do mundo;
· Se somos um mercado tão imenso, já é incompreensível o Brasil não ser um dos maiores players entre os fabricantes mundiais de medicamentos !
· Mas ... 90 % de todos os remédios acabados e princípios ativos de genéricos que consumimos são importados.
Não é coisa de louco ?
· Qualquer negócio ... seja lá qual for o negócio ... o negócio “corre atrás dos clientes” ... cria a necessidade para o cliente;
· Pelos números ... clientes para medicamentos aqui é o que não falta ... e ao invés de produzir para suprir esta demanda, deixamos que outros explorem o mercado ... o nosso mercado !
· Uma exploração de mercado que gera riqueza e gera empregos para os outros ... tanto que a maioria dos insumos básicos vem de países que precisam gerar empregos, porque são os 2 países mais populosos do mundo !
E vivemos aqui comemorando quando 0,1 % de empregos são gerados para uma população em que a maioria vive de emprego informal e/ou está desempregada e/ou vive de benefício social !
Somos tão espertos, não é verdade ? ... as tabelas mostram outra coisa ...
· A esquerda quais os países que mais investem em desenvolvimento e fabricação de insumos para a indústria farmacêutica
· A direita quais os países mais ricos do mundo;
· Todos ... todos ... todos os países mais ricos do mundo ou desenvolvem produtos farmacêuticos, ou produzem insumos para a indústria farmacêutica;
· Eles estão errados e nós estamos certos ?
Até mesmo um país pequeno, cuja economia não é maior que a nossa ...
· ... com todo respeito “um nanico” em relação ao Brasil ... territorialmente, demograficamente ...
· ... enxerga a saúde como oportunidade de negócio;
· Porque, em se tratando de “negócios”, é difícil encontrar país que entenda mais disso do que ele, se é que me entende !
A forma como o governo entende saúde é desastrosa:
· E vamos deixar claro ... não é este que está aí no governo federal ... são todos que passaram por lá ...
· ... não é somente o governo federal ... entram na “dança” o Distrital, os Estaduais e os Municipais;
· Infelizmente todos olham saúde como “uma pedra” no orçamento ... essa é que é a verdade;
· Cegos, não enxergam a realidade nem mesmo destas tabelas tão autoexplicativas da figura !
Qual é a “bronca” com as farmacêuticas estrangeiras ?
· Absolutamente nenhuma ! ... muito ... mas muito pelo contrário ...
· Primeiro agradecer: se elas não estivessem fabricando vacinas e medicamentos, teríamos muito mais brasileiros morrendo e com pior qualidade de vida ... se não fossem elas quantos milhões de brasileiros a mais teriam morrido de COVID, por exemplo ?
· Segundo dar os parabéns: se nós não queremos produzir e precisamos comprar ... sorte delas que “não são tão espertas como nós”, e aproveitam a oportunidade !!
Entre dezembro de 2011 e junho de 2013 prestei consultoria em gestão de contratos no Instituto e Fundação Butantan:
· Conheci profundamente e aprendi a respeitar o que Butantan significa ... suas centenas de pesquisadores ...
· ... passou pelas minhas mãos, por exemplo, um contrato de 2 bilhões de ovos estéreis, utilizados para fazer vacinas ... conheci a fazenda que tem cavalos utilizados na produção de antídotos ...
· ... aprendi que temos “cabeças” e tecnologia para produzir qualquer coisa que se refira a vacinas, medicamentos ou qualquer outro insumo para saúde;
· E conheci uma realidade do Butantan muito deferente da que conhecia quando levava meus filhos para ver aranhas, escorpiões e macacos nos domingos ... conheci uma instituição com um potencial econômico gigantesco !
Não nos faltam “cabeças” para fazer o que é necessário para transformar o Brasil em uma potência econômica na área da saúde ... tanto na área farmacêutica como na dos demais insumos utilizados na área da saúde:
· Faltam cabeças para entender isso !
· E, infelizmente, sobram cabeças que têm interesse em que isso não ocorra ...
· ... os pouquíssimos brasileiros que lucram com os royalties pagos para empresas estrangeiras que igual ou até menos competência técnica do que temos aqui ... nossa dura realidade.
Olha ... estou falando de 2011 ... 13 anos atras !!!
· Lá no Butantan há 13 anos já existia o projeto para fabricar vacina para dengue;
· Já se discutia na época que dengue seria um sério problema de saúde que afetaria boa parte do hemisfério sul do mundo;
· Já se falava na época em consequências de várias doenças que acabaram surtando o Brasil não tão depois assim ... como a explosão de casos de microcefalia no Nordeste !
· E ... 13 anos após ... estamos “ajoelhando no milho” para implorar que uma farmacêutica japonesa “tenha dó de nós” e libere um lote maior de vacinas !
Dá pra acreditar nisso ?
· Esta farmacêutica, conforme demonstra a lista, nem é uma das 10 maiores do mundo;
· E não se preocupou com uma doença que afeta seu país sede ... é 100 vezes menos provável que ocorra uma epidemia de dengue no Japão do que no Brasil;
· Mas eles desenvolveram a vacina porque o mercado é promissor;
· E o Butantan, que está no mercado promissor ... não teve o apoio governamental necessário para prosperar com o desenvolvimento de uma vacina nossa !
· Piada de mal gosto ... piada de mau gosto !
Tal como o Butantan, várias outras instituições de excelente qualificação para libertar nossas amarras da dependência alheia de insumos para a saúde sofrem com este panorama que “não há Cristo que mude”, nos deixando nas mãos de Deus sempre !
Assim como sofre o Butantan, sofre a FioCruz e uma dezena de instituições de pesquisa que a nossa comunidade científica tem orgulho, mas que o governo não há meio de entender que isso tem valor econômico ... que isso pode gerar mais dinheiro do que o empregado no custeio do SUS.
Não dá para deixar “passar em branco” uma coisa: parabéns ao governo japonês e parabéns para a farmacêutica japonesa !
· É bom lembrar que em nenhum lugar do mundo, exceto nos regimes autoritários, alguma empresa consegue desenvolver algo sem incentivo governamental ...
· ... ou pelo menos, sem que o governo não privilegie interesses que vão justamente contra o interesse nacional !
· Essa é a diferença em relação ao Brasil ! ... incentivo “zero” para fazer com que deixemos de depender totalmente dos outros quando se trata de saúde.
E em uma época em que se discute como continuar incentivando a Zona Franca de Manaus:
· Ainda não caiu a ficha que fabricar carros e eletrodomésticos será cada vez mais “merreca” na geração de empregos ... investir estrategicamente nisso para melhorar a economia é altamente questionável ... a proporção entre população mundial e a população que tem “bens de consumo” não tem como não cair ... a vida mudou ...
· ... é só comparar a proporção de pessoas no passado que um dia pensavam em ter uma batedeira de bolo em casa, com a proporção de pessoas que pensam nisso hoje ... a relação de consumo mudou !
Ao contrário, a proporção da população que consome produtos na área da saúde só faz crescer ! ... não tem como retroceder:
· Poderíamos estar enchendo a ZFM de farmacêuticas e de indústrias de outros insumos para a área da saúde: agulhas, seringas ... soros, nutrição ...
· ... para humanos e animais, é bom não esquecermos disso nunca;
· Deixando de “ajoelhar no milho” quando epidemias acontecerem ...
· ... e ainda exportando para todo o mundo que não tem a generosa natureza que Deus nos concedeu !
Não nos falta qualquer tipo de matéria-prima ...
· ... e não nos falta mão-de-obra !
· Falta ... sabe o que falta ?
Vai custar mais caro para serviços de saúde se fizermos aqui os medicamentos, materiais e outros insumos para a área da saúde ?
· Pode ser que não se o governo não conceder incentivos fiscais ... se tivermos uma Zona Franca de Manaus da Saúde, por exemplo !
· Pode ser que sim, mesmo que o governo conceda incentivos fiscais !
· Mas o custo benefício de compensar o custo das aquisições de insumos com a exportação do produto acabado é indiscutível ...
· ... tanto que é isso que os países mais ricos fazem !
· Se ficarmos calculando apenas quanto vai custar para fazer ou para importar vamos continuar achando bom negócio deixar as empresas estrangeiras explorarem o nosso mercado;
· Se calcularmos o custo x benefício geral, pesando “a balança de importações e exportações” vamos concluir que estamos perdendo uma oportunidade de negócios que nenhum país que tem a nossa competência técnica e recursos naturais perde ... tão simples quanto isso !!!
Ficamos “pasmos” vendo notícias de como a epidemia avança ... quantas pessoas estão morrendo ... é isso que queremos que aconteça sempre ? ... é esse futuro que queremos ?
Não precisamos ... não queremos ... que o ministério da saúde pare de fazer o que está fazendo:
· No combate às doenças temos orgulho do nosso SUS ...
· ... com todos os defeitos que conhecemos do SUS: ai de nós se não tivéssemos o SUS !!!
· O que precisamos ... o que deve ser feito ... é separar um pouco do esforço do governo para reduzirmos gradativamente a dependência dos outros quando o assunto é saúde.
É só isso que necessitamos: um plano efetivo para mudar o rumo das coisas !
· Para que pelo menos possamos sonhar que um dia seremos autossuficientes de coisa básicas;
· Temos tudo que precisamos aqui ! ... para que enriquecer os outros países ? ... as empresas de outros países ? ...
· ... e continuarmos sendo humilhados a cada nova epidemia ?
Os maiores especialistas em saúde no mundo declaram em “verso e prosa” que epidemias e pandemias serão cada vez mais frequentes por conta da globalização:
· Será que não vamos acreditar neles nunca ?
· Puxa ... já que a ocorrência de epidemias e pandemias é inevitável ...
· ... por que não investir nisso para reduzir o dano, e ainda ... como “efeito colateral” ... gerar empregos, lucrar ...?
Quando teremos governantes que enxerguem algo tão claro e visível como isso ?
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Contato contato@escepti.com.br
Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado