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2023 acabou sendo pior do que a encomenda para a saúde suplementar regulada

0386 – 21/04/2024

Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Um ano de recuperação, “pero no mucho”

 

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

Para quem atua profissionalmente durante anos na gestão da sustentabilidade de operadoras de planos de saúde e de serviços de saúde na área privada como eu, os números do fechamento de 2023 da saúde suplementar regulada não surpreenderam.

Confesso que no início de 2023 todos os “nerds’’ da saúde suplementar como eu achavam que 2023 seria um ano de recuperação ... até foi se compararmos com 2022 ... mas muito aquém da expectativa ... recuperação sim, mas “pero no mucho” como satirizava sempre o saudoso Jô Soares sobre assuntos “não tão sérios” como este !

Durante 2023, simultaneamente aos projetos em serviços de saúde, tive a honra de participar das mais estratégicas convenções do Sistema Unimed como palestrante ... as que  “congregam” presidentes e diretores de todas as Unimeds ... todas mais ou menos no meio do ano ... e analisando “as dores” e projetando os números que tínhamos até então “já dava pra cravar” que seria um ano ruim para a saúde suplementar regulada pela ANS.

E foi ... foi péssimo !

O gráfico da esquerda representa a evolução % das operadoras de planos de saúde que fecharam o ano com prejuízo:

·        Tabula, segundo os dados publicados no site da ANS, o prejuízo quando somamos todas as receitas, e subtraímos todas as despesas (e os custos, uma vez que despesa assistencial não é despesa para operadoras, como rotula a ANS ... é custo como denominam todos os professores de custos no mundo !);

·        Em 2019 estávamos “na casa” dos 15 % de operadoras com prejuízo;

·        Em 2022 “batemos o recorde histórico” chegando na casa dos 56 % de operadoras com prejuízo;

·        Em 2023 houve recuperação em relação a 2022, mas ficamos “na casa” dos 45 % de operadoras com prejuízo ... muito próximo de 2021, quando vivemos “o olho do furacão” ... muito longe do pré pandemia de 2019.

Se olharmos o gráfico da direita, que segrega as operadoras de planos exclusivamente odontológicas das que comercializam tanto assistência médica quanto odontológica:

·        O % de operadoras de assistência médica e odontológica na verdade está uns 3 pontos percentuais maior que a média ... na casa dos 48 %;

·        E o % de operadoras exclusivamente odontológicas com prejuízo ainda está crescendo ... foram batendo recorde após recorde desde 2019 em diante, ano após ano, chegando ao maior índice em 2023 com na casa dos 41 % ... só Deus sabe onde vão chegar !

 

 

Embora a regulação da ANS seja praticamente a mesma para todos os tipos de operadoras ...

·        ... uma regulação que existe, “até a página 5 da bíblia”, para dar segurança ao consumidor final (a empresa contratante de planos de saúde e o consumidor individual) ...

·        ... o perfil de resultado delas é bem diferente quando falamos de lucro ou prejuízo !

Quando observamos o gráfico da esquerda ...

·        ... que trata de operadoras sem fins lucrativos ...

·        ... vemos que as filantropias reagiram melhor do que qualquer outro tipo de modalidade, muito em função de que o negócio delas na essência não é operar planos de saúde: é melhorar a rentabilidade do serviço de saúde que criou a operadora ... a Santa Casa mantenedora, por exemplo;

·        Já as autogestões, na média, têm o pior resultado entre todas as modalidades, mas vamos lembrar que “são uma espécie de condomínio”, em que os beneficiários são os donos, e o prejuízo apenas significa que a inflação da saúde naquela carteira vai exigir um aumento do valor a ser pago pelos condôminos;

·        É claro que operadoras que visam lucro vão aproveitar estes números das autogestões continuar a “vender a ideia” de que são mal administradas e que as mantenedoras devem abandonar a autogestão e contratar uma operadora ... coisa que sempre fizeram ... coisa que na maioria da maioria da maioria das vezes é mentira ... é puro apelo comercial para lucrar em cima da carteira ... mas a vida é assim mesmo na saúde suplementar: tem muita chance para aproveitar “o caminhão de dinheiro que tem nela” para quem “tem boa lábia e sabe para qual ouvido deve cochichar” ... se é que me entende !

Quando observamos o gráfico da direita a análise é bem diferente:

·        É sempre ruim falarmos de % de operadoras com prejuízo no âmbito das seguradoras ... apesar de terem uma parcela importante do mercado, são “meia dúzia” ... se uma está mal já contamina bem este tipo de análise;

·        E seguradoras, pela característica do produto (abrangência e oferta de rede) não brigam exatamente pelo mesmo mercado que as das demais modalidades ... é “quase um mundo” a parte das demais.

Já em relação às Cooperativas Médicas e as Medicinas de Grupo “é briga de cachorro grande, como dizem lá na roça”;

·        Tanto nas Unimeds como nas MGs os % são menores em 2022 do que em 2023 ...

·        ... mas nas MGs o % é quase igual ao de 2021 ...

·        ... e embora o das Unimeds seja menor que o das MGs, ainda é maior que o de 2021 !

 

 

“Para não dizer que não falamos das flores”:

·        O caso das operadoras que vendem planos exclusivamente odontológicos é gravíssimo;

·        Nós praticamente não tínhamos registro de operadoras com prejuízo antes da pandemia;

·        E continuamos ano após ano batendo recordes de % de operadoras com prejuízo.

·        A primeira pergunta de “1 milhão de dólares é”: ninguém vai fazer nada ?

·        A segunda é: este mercado é verdadeiramente regulado ou não é ?

Caso não tenha “caído a ficha” ainda ...

... quando falamos de operadoras de planos de saúde com prejuízo, sejam na assistência médica, seja na odontológica:

·        É claro que o principal é resguardar a segurança do beneficiário que paga pelo plano e pode ficar “com o pires na mão” como aconteceu, por exemplo, com a Unimed Paulistana ... não é verdade ?

·        Mas pouca gente se dá conta que existe muita gente que trabalha nisso ... que se sustenta com isso ... centenas de milhares, talvez mais de milhão, de pessoas que atuam na definição e comercialização dos planos, no credenciamento, em autorizações, em prestação de contas ... gente que sustenta os processos de relacionamento entre consumidor e vendedores de serviços de um mercado de 50 milhões de clientes !

E não temos nenhum indício de que alguém esteja pensando em mudar a regulação para mudar o cenário:

·        Só vemos resoluções normativas que tratam de uma “inclusãozinha” no Rol aqui ...

·        ... uma “nova regrinha” para enviar contas ali ...

·        Movimentos de regulação que beiram 100 % de burocracia e 0 % de melhoria do sistema de financiamento e na qualidade assistencial, que deveria ser o que importa, mas não é !

 

 

Os gráficos detalham um pouquinho mais “esta briga de cachorro grande” das Unimeds com as Medicinas de Grupo pelo mesmo mercado:

·        O da esquerda demonstra a quantidade de operadoras existentes ano após ano de 2019 até 2023;

·        O da direita o número de operadoras com prejuízo, ano após ano, no mesmo período;

·        Por exemplo ...

·        ... tínhamos 280 Unimeds em 2019, e caiu para 272 em 2023;

·        ... tínhamos 259 Unimeds com lucro em 2019, e caiu muito mais do que as que desapareceram ... apenas 161 em 2023 !

2023, infelizmente ainda é um cenário mais do que caótico para os “pitbulls” !

Estou tendo a honra de estar reestruturando a área de saúde suplementar de um complexo hospitalar gigante:

·        Estou tendo todo o apoio da alta gestão ... não vou citar o nome porque aqui no LinkedIn não represento oficialmente a instituição ... a instituição tem o seu canal no LinkedIn;

·        A missão principal deste trabalho é reposicionar os hospitais do complexo no mercado.

Não é missão principal renegociar contratos existentes ... é fácil entender:

·        Neste cenário extremamente recessivo para as operadoras, a chance de aumentar a rentabilidade com “aumentinhos de preço”, pacotes, e outras práticas conhecidas “desde a época no velho testamento” ... a chance disso dar resultado efetivo é baixíssima.

·        No dia a dia vemos operadoras fazendo tudo que não é ilegal, imoral e antiético para reduzir a sinistralidade ... e “cá entre nós” algumas não ligam muito mais o imoral e antiético não: estão “indo para as cabeças” ...

·        ... basta olhar os números para entender que se boa parte delas está simplesmente abandonando preceitos de qualidade, acolhimento, experiência do paciente, valor em saúde ... é porque infelizmente esta regulação insana construída e formalizada ao longo dos anos pela ANS, permite que o “balanço” seja muito mais importante do que isso !

Operadoras continuarem trabalhando na contenção da sinistralidade ...

·        Prorrogando prazos de autorização ao máximo dentro da lei ...

·        ... glosando coisas que até foram feitas, mas que escrituralmente apresentaram problemas ...

·        ... verticalizar ... coparticipar ... franquiar ...

·        E outras coisas que se profissionalizaram em fazer para reduzir a sinistralidade ...

·        ... são coisas que vão continuar fazendo ... devem continuar fazendo ... mas “não vai mudar a cotação do dólar” entende ?

O fato é que agindo assim elas continuam “ganhando o primeiro quilômetro da maratona” ... mas a maratona tem mais de 42 quilômetros:

·        Ou o serviço de saúde vai no ritmo delas, e “sufoca” na primeira meia hora de corrida junto com elas ...

·        ... ou se prepara para suportar mais de 2 horas de corrida.

Neste projeto, com todo o apoio que podemos ter, estamos alinhados com objetivos bem diferentes do que a maioria dos serviços de saúde “inseriu nas ações do seus planejamentos estratégicos”:

·        Incrementar auditoria interna para corrigir erros de faturamento, maximizar os lançamentos, melhorar processos de faturamento e de recursos de glosas, negociar melhores reajustes de preços ... são coisas que vamos continuar fazendo ... devemos continuar fazendo ... mas também não vão mudar a cotação do dólar !

·        Estamos buscando incrementar a parceria com que é maratonista ...

·        ... quem corre 100 metros rasos pode ser a estrela das olimpíadas, mas não vai ajudar os serviços de saúde a se sustentarem em um mercado mal regulado;

·        Precisamos planejar a maratona para tentar ganhar a maratona ... se não der para ganhar, pelo menos chegar ao final ... não ter que abandonar o meio ... já estamos no meio dela “faz tempo” !

O foco de sustentabilidade tanto de serviços de saúde como de operadoras tem que ser incrementar parcerias que deem resultados mais efetivos tanto no curto, como no médio e longo prazos.

Quem se preocupar só com o curto prazo vai continuar “engordando” estas estatísticas macabras que todos estes gráficos acima demonstram para quem quiser ver !

E ... pior ... pode protagonizar este último gráfico da esquerda ... que é “mais do que emblemático”... é cruel !

Consultoria  e  Coaching de Carreira  para gestores na área da saúde privada e pública  www.escepti.com.br

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Contato  contato@escepti.com.br

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado