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SUS e Saúde Suplementar com tendências muito diferentes em 2024
0390 – 15/06/2024
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Tendência de agravamento da crise na saúde suplementar não se apresenta da mesma forma no SUS
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Quem olha o gráfico e não atua profissionalmente em gestão da saúde privada e pública pode chegar a uma conclusão completamente equivocada sobre a “saúde financeira” do SUS e da Saúde Suplementar:
· Ele demonstra a evolução ao longo dos anos orçamento total do SUS (barras azuis) e o total da receita das operadoras de planos de saúde reguladas pela ANS (barras laranjas);
· Pode passar a impressão de que a saúde suplementar regulada pela ANS está “nadando de braçada” na assistência aos pacientes, enquanto o SUS vai cada vez mais “definhando”;
· Mas não é bem assim ... de mão dadas, SUS e Saúde Suplementar Regulada pela ANS estão com a sustentabilidade ameaçada ... mas ... a saúde suplementar regulada pela ANS está muito mais ameaçada que o SUS !
E quem olha a figura evidentemente não vai entender porque um “santista” como eu colocaria a foto de um estádio lotado de um time da Cidade de São Paulo junto com o gráfico:
· Nenhuma simpatia por qualquer outro time ... nem simpatia, nem antipatia ... é bom que se diga;
· É que para explicar porque a saude suplementar está mais em risco que o SUS precisava ilustrar com um local de grande concentração de gente que misture várias “camadas socioeconômicas” da população;
· Poderia ser a Vila Belmiro ... mas como o Santos está “ao Deus dará” ... vai esse mesmo, “que não é tão conhecido no mundo todo como a Vila é” ... paciência !
No estádio assistindo a este jogo:
· Tem gente que vai sempre ... pode ser um sócio torcedor;
· Tem gente que vai de vez em quando, ou porque paga pelo ingresso, ou porque ganha o ingresso !
· Tem gente que assiste “na geral” e mal dá pra ver o campo todo ... pode comprar um “dog” pra matar a fome, talvez sem um refri para “aliviar a azia certeira”;
· Tem gente que assiste no camarote, com ar-condicionado, “open bar” ...
Quando a gente vai ao estádio percebe que está perto de torcedores apaixonados, curiosos que nem sabem direito o que estão fazendo ali, exibicionistas que estão ali apenas para mostrar ostentação ... tem de tudo !
Todas estas pessoas, do mais necessitado economicamente, até o “mais abastado” economicamente, consomem saúde ... apesar de futebol ser um esporte que está na agenda da maioria da população, futebol não é um produto consumido por todo mundo ... saúde é !
Para entender os 3 sistemas de financiamento da saúde que existem no Brasil, imagine que toda a população do Brasil esteja nesta foto do estádio:
· Apenas ¼ da população tem plano de saúde ... o que está representado pela “ameba vermelha” ... esta é a Saúde Suplementar Regulada pela ANS ... apenas isso !
· Praticamente todo mundo que está neste estádio usa o SUS ... alguns somente para tomar vacina ... uma parte usa para baixa complexidade e não usa na alta ... uma parte só usa na alta ... uma pequena parte, que a gente vê fora do estádio na foto, não tem nem mesmo acesso ao SUS ... podemos dizer que o SUS permeia o estádio inteiro;
· Uma parte “dos torcedores” tem recursos para não ter que usar o SUS, e “pagar saúde” que o plano de saúde não paga ...
· ... na verdade tendo plano de saúde ou não ...
· ... estes podem estar em qualquer lugar do estádio ... tem desde pessoas muito pobres que compram um medicamento e pagam do bolso, até os ricaços que “habitam os camarotes” ...
· ... e isso é o que chamamos de saúde suplementar não regulada pela ANS ... não dá para “fazer uma ameba na figura” para ilustrar o tamanho dela ... justamente porque não é regulada, e está espalhada pelo estádio inteiro !
Aquele primeiro gráfico trata apenas do SUS e da saúde suplementar regulada pela ANS:
· Não vamos tratar nesta texto da saúde suplementar não regulada ...
· ... que está muito bem, é bom que se diga ... cada vez melhor ... e com tendência de continuar ficando cada vez melhor !
· Porque os outros dois sistemas (o SUS e a Saúde Suplementar Regulada) vão se complicando ... e quanto mais eles se complicam, aumenta a oportunidade de negócios para quem não atua com regulação alguma !
Quando olhávamos aquele primeiro gráfico apreciamos a escalada da receita total da saúde suplementar regulada:
· É impressionante como o mercado para as operadoras de planos de saúde “bate recordes” de arrecadação ano após ano, chegando em 2023 a quase 300 bilhões de reais ... isso é o que entrou nos cofres delas ... o que está representado novamente neste gráfico .. nas barras azuis !
· Mas as barras vermelhas deste gráfico demonstram o que sai dos cofres delas, para pagar a assistência prestada aos beneficiários ... para pagar as despesas administrativas ... e para remunerar os que vendem: os que comercializam os planos de saúde para elas;
· Percebemos que as linhas delas são muito próximas ... o que está aumentando é o volume de dinheiro, e não a rentabilidade ... a sustentabilidade ... delas;
· A sustentabilidade aumentaria se a linha azul fosse se afastando cada vez mais da vermelha.
Na verdade, uma margem “constante” como mostra o gráfico, proporcionalmente a uma escala que cresce muito ao longo do tempo é mais que preocupante ... é fácil de entender:
· Se voce tem um negócio que fatura 100 e dá lucro de 10, necessita de 9 meses de lucro para cobrir um eventual prejuízo de 90 que tem na operação (90 é a diferença entre os 100 que entram e os 10 que ficam);
· Mas se tem um negócio que fatura 1.000 e dá o mesmo lucro de 10, vai necessitar de 99 meses de lucro para cobrir um eventual prejuízo total de 990;
· Quando o negócio aumenta de escala, a sustentabilidade vai ficando cada vez mais sensível se a proporção da margem não aumentar ...
· ... a não ser que o mercado que envolve o negócio esteja expandindo também e dê segurança de que o dinheiro vai continuar entrando cada vez mais ...
· ... o que não é caso da saúde suplementar regulada ... o mercado da saúde suplementar regulada é ~ ¼ dos torcedores do estádio há muito tempo;
· Por isso oscilações como a pandemia levaram tantas operadoras “a pedirem água” recentemente !
O gráfico da esquerda compara o orçamento do SUS per capita (barras azuis) com a evolução das despesas das operadoras (barras laranjas), também per capita:
· Per capita quer dizer, no caso do SUS, dividir por ~150 milhões de pessoas que não têm plano de saúde ... e no caso da saúde suplementar regulada os ~50 milhões que têm plano de saúde;
· O orçamento do SUS é 100 % a despesa do SUS ... só despesas;
· Portanto a comparação dos dois nos dá a melhor noção do quanto custa um beneficiário em média para cada um dos dois sistemas de financiamento;
· O da saúde suplementar, que em 2013 não custava nem mesmo o dobro do que custava para o SUS, em 2023 custa quase 5 vezes mais !
A pergunta que não pode calar ... o cerne da questão: será que o que as operadoras estão entregando para os beneficiários de planos de saúde vale 5 vezes mais do que o SUS está entregando para a população ?
· É claro que não !
· Por pior que voce possa achar que o SUS é ... e voce deve achar pior o SUS quanto menos o conhece ...
· ... por mais “mordomias” que o beneficiário de planos de saúde possa ter no atendimento privado oferecido pelas operadoras ...
· ... o “valor” da assistência da saúde suplementar regulada jamais é 5 vezes maior que o “valor” da assistência que o SUS fornece para a população.
Pode-se utilizar o argumento que for ... o que os planos de saúde estão entregando para o beneficiário de planos de saúde pode ter tido “5 vezes mais valor” há 10 ... 20 anos ... hoje: “nem a pau!”:
· Atuo no segmento tanto na área pública como na privada;
· Tem operadora que “ajoelha no milho” agradecendo a Deus quando um beneficiário com autorização na mão para fazer na rede dela consegue fazer pelo SUS !
· Ninguém me conta ... vivencio isso diariamente !!
Em 2013 o que as operadoras entregavam para os beneficiários era, proporcionalmente muito mais do que entregam hoje ...
· ... e em 2013 o custo do plano de saúde em relação aos dias atuais era 4 vezes menor !
Já no caso do SUS:
· Podem continuar com “o mantra” de criticá-lo, mesmo sem conhecê-lo ...
· ... por mais que você possa odiar o SUS ...
· ... no fundo da sua consciência tenho certeza que admite que o SUS evolui a cada ano ... entrega cada vez mais para a população ...
· ... pode não entregar o que deveria ... o que poderia ... mas que o que entrega, entrega cada vez mais, não tem como negar ! ... e todos os indicadores que estão disponíveis abertamente para qualquer pessoa aferir demonstram: é só baixar e ver !!
O que se coloca na questão da comparação da evolução do custo dos sistemas é mais do que visível no gráfico da direita:
· Na saúde suplementar, 13 % do custo não tem nada a ver com assistência médica ...
· ... não despesas administrativas e comerciais.
Em qualquer negócio em um mercado estagnado ... que não cresce ... e remunera vendedores a um custo de 3 % da receita total, tem algo de errado não é verdade ?
· E vamos lembrar que existem operadoras onde esta despesa não existe: autogestões, operadoras regionais sem concorrentes ... existem operadoras onde este % é estratosfericamente maior ! ... para um produto que não é varejo, em que a maioria da venda ocorre em planos coletivos ... para um produto em que a venda se refere a um produto que será consumido por anos ... gastar isso com despesa comercial, me desculpe mas chega a ser “ridículo”;
· Se voce administra um negócio, seja ele qual for, em que as despesas administrativas beiram 10 % da receita total ... acho que não preciso dizer que voce administra muito mal !!! Voce até pode ter esta despesa “durante a fase de “start up” da empresa, quando os sistemas de informações ainda estão se desenvolvendo ... mas quando a empresa já se encontra no mercado há anos ... décadas ... me desculpe mas é “ainda mais ridículo” !
Estes gráficos emblemáticos demonstram que a gestão das operadoras de planos de saúde, que deveria ser exemplo de eficiência quando comparamos com o SUS, uma vez que a área privada tem mais flexibilidade administrativa que a pública ... a gestão na verdade se configura como um contraexemplo de melhores práticas de gestão:
· Quem atua no ramo sabe bem do que se trata;
· Estruturas inchadas, processos burocráticos, relacionamento com prestadores que não flertam com a meritocracia ...
· Tudo é muito difícil, burocrático, lento, impreciso ...
· ... e os números ilustram claramente isso !
A tendência do mercado da saúde suplementar é piorar:
· O gráfico da esquerda demonstra que deveríamos caminhar na saúde suplementar para um cenário onde despesas assistenciais dominassem completamente o plano de negócios em relação às demais despesas;
· As despesas assistenciais até crescem proporcionalmente às demais, mas o crescimento é baixo ... 8 % em 11 anos ... 1 anos ... faz tanto tempo ... em 2013 o Brasil nem tinha levado 7 x 1 jogando em casa ! ... faz tanto tempo que as pessoas nem lembram mais disso !
As operadoras continuam com um “modus operandi” igual ao de décadas passadas:
· Tentar repartir sua perda de rentabilidade ... sua ineficiência ... com médicos e serviços de saúde;
· “Pensar saúde” exclusivamente no curto prazo ...
· ... se algo custa mais caro hoje não paga, independente de, se pagar R$ 1,00 a mais hoje, isso possa significar economizar R$ 5,00 amanhã !
· O que importa é hoje ... o que importa é o fechamento do balancete deste mês !
O gráfico da direita demonstra que o planejamento do SUS está diferente a partir de 2023:
· Projeta um crescimento per capita importante no orçamento;
· Enquanto a tendência da saúde suplementar é “apertar o orçamento” per capita, o do SUS é aumentar;
· Não se engane ... os gráficos não apontam tendência de redução do custo das operadoras ... aponta a redução do crescimento ... o custo vai continuar subindo ... o que o gráfico demonstra é que proporcionalmente vai subir menos de 2023 para 2024;
Já no SUS o orçamento proporcionalmente vai subir muito !
· Em dois sistemas de financiamento com dificuldade de sustentabilidade, pelo menos no SUS a sustentabilidade em 2024 será “menos pior” do que em 2023;
· Um orçamento que passa de ~R$ 183 bilhões, para R$ 231 bilhões ... uma variação histórica para o SUS ... temos que comemorar ! ... qualquer coisa que melhore o SUS a gente tem que comemorar, porque passamos por um período tenebroso onde o SUS foi colocado em questão, e não faz muito tempo !
Naquela figura do estádio, se não olharmos para o jogo, mas olharmos para a torcida ...
Para aqueles que estão na “ameba vermelha”:
· Os 25 % da população que têm plano de saúde ... a notícia não é muito agradável;
· O aumento da sinistralidade, que define o preço do plano de saúde, continua sendo a tendência, porque as operadoras não trabalharam o médio e longo prazos no passado ... o médio e longo prazos chegou ... e eles vão ter que pagar mais caro pelo plano de saúde ... ano após ano;
· E, como mostram os gráficos anteriores, as operadoras não estão muito preocupadas em entregar um produto melhor ... estão mais preocupadas em prover uma estrutura administrativa restritiva ao acesso para conter a sinistralidade, e em remunerar quem vende os planos de saúde, repassando para o preço !
· É o que demonstra o gráfico da esquerda !!
Para aqueles que não estão na “ameba vermelha” uma luz no fim do túnel:
· O SUS está recebendo repasse maior ano após ano ... e especialmente em 2024, um aumento bem significativo em relação à série histórica;
· Talvez “sobre algum para comprar uma cerveja sem álcool” durante o jogo ... se é que me entende;
· É o que demonstra o gráfico da direita !
É claro que todos gostariam de estar no camarote:
· Mas a gente tem que aceitar que somos um país pobre ... e isso é para poucos;
· Porque mesmo na saúde suplementar não regulada pela ANS ... aquela que não comentamos no texto ... e que vai muito bem obrigado !!!! ...
· ... o camarote é para poucos ... tem mais “gente na geral” do que nos camarotes !
É preciso ressaltar algo que talvez não esteja claro para quem está lendo ... mentalizando novamente a figura do estádio:
· Das pessoas que estão “fora da ameba” assistindo ao jogo, a maioria absoluta não usa o SUS com frequência;
· Se voce perguntar para 100 pessoas, das mais humildes que existem, e que não têm plano de saúde: quando foi a última vez que voce foi ao médico, ou fez um exame ?
· Provavelmente ela vai dizer: faz tanto tempo que nem lembro !
· Quando fizemos o cálculo per capita para o SUS aqui, consideramos uma população dependente de ~150 milhões de pessoas;
· Mas o número de pessoas que usam o SUS com alguma regularidade que deveria estar no denominador desta conta é muito ... mas muito ... mas muito menor que isso;
· O repasse per capita do SUS é muito maior do que o que demonstram os gráficos.
Mas se voce perguntar para qualquer pessoa que tem plano de saúde a mesma coisa, a probabilidade da pessoa dizer a data e a hora é grande ... e provavelmente vai ouvir um monte de reclamação.
Pois bem ...imagine se toda a argumentação aqui exposta no texto tivesse sido feita demonstrando um repasse per capita do SUS maior ! ... porque é maior ... apenas não conseguimos medir.
Acho que assim ficou bem defendida a tese de que a crise na saúde suplementar é bem mais preocupante do que a do SUS ... ou não ?
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado