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Gestão de custos na saúde é mais observação e análise do que cálculo
0398 – 25/08/2024
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Empresas investem muito em sistema e pouco em capacitação de gestores de custos
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Fico muito contente em estar conduzindo mais um curso de gestão de custos para a Unimed FESP ... sempre agradeço à Elisete, Elisabete e Tereza pela oportunidade ... muito obrigado ! ... na verdade são 2 cursos para públicos diferentes das dezenas de Unimeds do Estado de São Paulo ... com gestores das operadoras e dos serviços próprios ... um que está acontecendo agora, e outro que acontecerá em outubro, se Deus quiser !
No segmento da saúde, que com toda a modéstia posso dizer que conheço um pouco, são poucas as empresas que investem em capacitação dos gestores para gestão de custos:
· Até tem empresa que capacita gestores da área de contabilidade ... cada vez menos, diga-se de passagem ...
· ... para cursos que tem como foco o cálculo do custo, que é muito diferente da gestão de custos, que não é o contador que faz !
A empresa investe em sistema, coloca uma equipe para calcular os custos com precisão na “quarta casa após a vírgula” e o custo continua escapando “pelo ralo” porque falta justamente quem observa a evolução dos gastos (custos e despesas) e age para reduzir o desperdício:
· A contenção de gastos (custos e despesas) que as pessoas chamam indevidamente de “redução de custos”, porque não dominam conceitos básicos de diferenciação entre custo e despesa, e as técnicas para contenção dos gastos;
· Que na verdade é gestão da rentabilidade do negócio, da unidade de negócio, do produto ...
“No meio” do curso, escolhi falar aqui sobre inflação da saúde para exemplificar como gestão de custos pode estar ausente nas instituições da área da saúde ... e o resultado que pode dar.
Para quem não tem muita intimidade com as várias inflações que existem na área da saúde, e possa estranhar que vou aqui citar apenas uma delas ... a que se relaciona com aquisição de insumos) ... fica a recomendação de ler o post 326, de 6/4/2023, que está disponível na página noticia.net.br ! ... entre as várias inflações citadas lá, está esta citada aqui !!
Estes gráficos demonstram a evolução dos preços de compra insumos utilizados na área da saúde de 2 grupos diferentes:
· O de cima com itens que são comumente utilizados dentro e fora da área da saúde;
· O de baixo, itens utilizados prioritariamente na área da saúde.
Eles guardam uma característica em comum:
· Existe uma tendência natural dos itens de valor unitário mais caros aumentarem de preço em maior frequência e em maior volume que os item de menor valor unitário;
· Boa parte das pessoas acham é o contrário, mas na prática não é.
Quando ainda era da área de tecnologia (faz tempo ... faz muito, muito tempo ...) tive a oportunidade de conviver com 2 “mestres” de empresas de varejo, e não esqueci de algumas coisas que aprendi com eles desde então:
· Quando o vendedor coloca um aumento de 0,10 em um produto que custa 49,83, o comprador nem percebe o aumento de 49,83 para 49,93;
· Mas se ele colocar um aumento de 0,10 em um produto de preço 9,93, o comprador percebe o aumento de 9,93 para 10,03, e deixa de comprar ! ...
· ... primeiro porque o segundo produto é de valor menor ... 0,10 em relação à 9,93 significa 1,07 % ... enquanto 0,10 em relação à 49,83 é 0,2 % ...
· ... mas, o principal segundo eles, é que o preço ultrapassou a casa inteira no segundo caso, de 9 para 10, enquanto no primeiro caso a casa inteira permaneceu em 49 ...
· ... por isso, inclusive, eles “chapam preços” de 4,99, e não arredondam para 5,00 nos reajustes de preços.
Estamos acostumados a ver isso na prática e na maioria das vezes achamos normal:
· Fala sério ! ... achamos normal no Brasil o preço do litro da gasolina ser de x,9999 ...
· ... 3, 4 casas após a vírgula, como se esta moeda existisse !!! ...
· ... não é verdade ?
Estes gráficos demonstram isso:
· Os produtos de preço unitário mais elevado vão ganhando “míseros aumentos imperceptíveis” ao longo do tempo;
· Nos de menor valor é um pouco mais difícil para o vendedor fazer !
Estes gráficos, que ilustram a evolução dos preços de insumos quase exclusivos da área da saúde, demonstram uma outra característica da inflação no segmento:
· Insumos que são de grande volume de produção tendem a baixar de preço unitário;
· Nem sempre o preço unitário que está na tabela de preços do vendedor;
· Mas o preço unitário final quando a gente computa o preço total de aquisição, incluindo a logística: o frete e o custo do controle que existe em despachar 10 ou 20 unidades de uma só vez !
Os fabricantes vão desenvolvendo novas embalagens ...
· ... não necessariamente as embalagens de consumo ... o frasco de soro pode continuar sendo o mesmo ... mas a embalagem que acondiciona para venda em 5, 10, 20 ... 50 frascos;
· E ofertando quantidades sempre maiores ... reduzindo a chance do comprador comprar quantidades menores ... o “preço unitário global” cai, em função do custo da logística, que cai !
Nos produtos, como os deste gráfico, que não são de grande volume, esta engenharia de reduzir o preço unitário pode ser feita pelo próprio comprador:
· Ele vinha comprando em quantidades pequenas (lado esquerdo do gráfico), em tempos espaçados, e passou a estocar um pouco mais, comprando quantidades um pouco maiores e/ou negociando preços em lotes (garantindo a compra) para entregas em tempos menores;
· É necessário avaliar se o custo do armazenamento, e do empenho financeiro em fazer o estoque vale a pena, é claro !
· Neste caso valeu !
O preço geral de mercado não se altera, mas o preço que a gente paga invariavelmente cai !
Quando analisamos a tendência de preços de compra dos produtos, podemos observar se alguns deles estão se comportando diferente da média geral de inflação do mercado ... a média geral do mercado pode ser afetada por vários fatores ... dentre eles:
· O produto depende de insumos que são importados, o presidente “fala uma bobagem” e o dólar sobe ... o presidente fala o que os investidores querem ouvir e o dólar desce ... que tal escolhermos um presidente mudo da próxima vez ?
· Falta um insumo no mercado, a procura fica maior que a demanda e o preço sobre ... ou o inverso quando o preço cai;
· O fornecedor perde concorrentes e aproveita para subir o preço ... ou o inverso e ele é obrigado a reduzir;
· Aparecimento, ou desaparecimento de um “cartel”;
· Elevação do preço dos combustíveis ... a maioria dos produtos da saúde são muito sensíveis à variação do preço do frete na maior parte do território nacional ... as fábricas de insumos não ficam “tão próximas assim” dos pontos de consumo !
· E assim vamos ...
Nem sempre ... e na área da saúde na maioria absoluta das vezes ... a área de suprimentos (de compras) “é o fiel da balança” para uma boa negociação de preço de compra:
· Na área da saúde, especialmente em relação aos insumos de uso exclusivo da área da saúde, estes fatores são o fiel da balança !
· A questão não é, somente, negociar bem o preço na hora de comprar ! ...
... a questão fundamental ... o que muda o perfil da inflação das compras ... é o quanto necessitamos do produto ... o quanto estamos dispostos a pagar pelo aumento de preços dele.
Refrigerante na área da saúde geralmente é adquirido para vender na lanchonete, no restaurante:
· Não tenho conhecimento que existe alguma dieta baseada em farta ingestão de refrigerante;
· Devo confessar que gostaria muito que tivesse ... sou um consumidor “inveterado” de coca zero e pepsi black !
· Este insumo é a base do produto de venda que é ele mesmo;
· Se voce consegue aumentar o preço de venda dele, é mais fácil absorver o aumento do preço de compra ... se não consegue a equação é bem simples: vai reduzir a margem ... vai reduzir a rentabilidade deste produto.
O caso do soro é diferente:
· Boa parte dos produtos de venda que usam soro não cobram mais o soro separadamente ... todas as contas em formato de pacote, diária global ... tudo que não é conta aberta ... não “chapam” mais soro na conta ... o soro não compõe o preço de venda;
· Mas o soro sempre compõe o custo, independente de estar compondo o preço.
Nos dois casos, a contribuição da área de compras para conter os custos é importante, mas não é fundamental:
· Não é a negociação do preço de compra que “vai mudar o índice da bolsa”, se é que me entende;
· Estes produtos estão nas mãos de fabricante exclusivo e/ou de fabricante de grande porte (de porte gigante);
· Mesmo que exista oferta de intermediários diferentes para fornecer, as regras gerais da precificação estão “nas mãos” de umas duas ou três empresas.
O que vai fazer a diferença é a atuação do gestor de custos ... o gestor da unidade de negócios ... e não a área de compras.
O chefe do restaurante ... da lanchonete ... em decidir continuar trabalhando com aquela marca de refrigerante ou não:
· Se vai continuar ofertando refrigerante ou outro tipo de bebida, diga-se de passagem;
· Se vale a pena absorver a inflação na compra e arriscar quebrar o preço de 6,99 para 7,10 ! ... se isso vai reduzir o consumo, a margem do produto e a rentabilidade da lanchonete;
· A gestão do custo passa por saber se precisamos continuando comprar aquele produto específico !
A coordenação de enfermagem ... em decidir se homologa um outro tipo de embalagem de soro ... um outro fabricante ... que o custo x benefício seja mais vantajoso agora:
· Digo agora porque um dia, a área homologou os fornecedores e, espera-se, que tenha havido uma análise técnica (segurança do paciente, eficácia ...) e de custo x benefício para definir dentre os vários fornecedores, dentre as várias apresentações do produto ... os que poderiam fornecer ... ou pelo menos os que não poderiam por não cumprir requisitos técnicos;
· A mudança de apresentação de um produto pode modificar um POP ... e uma “apresentação inovadora” em relação ao passado pode “encarecer o custo” do produto específico, mas reduzir o custo do procedimento inteiro descrito no POP !
As perguntas que sempre faço nestes cursos de gestão de custos ... talvez as perguntas que dão o real valor ao curso, e que talvez sejam “o fator” que motiva os participantes a avaliarem bem o curso ... que motiva a FESP todo ano abrir agenda para este curso para todas as Unimeds do Estado de São Paulo ... as perguntas do “1 milhão de dólares” é:
· A empresa está estruturada para que as áreas façam isso ?
· Se a empresa não exige que o gestor faça a gestão dos custos da área de sua responsabilidade ... do produto de sua responsabilidade ... quem está fazendo ?
Olha ... a contabilidade pode estar calculando custos, dentro dos mais ricos e preciosos preceitos contábeis ... e “ninguém estar nem aí” para a evolução da perda de rentabilidade ... a probabilidade disso estar acontecendo na maioria das empresas que atuam no segmento da saúde “é bem próxima de 100 %”:
Por isso fico muito contente em poder passar um pouco da experiência nisso em cursos para gestores ... não me canso de agradecer a oportunidade e de afirmar que faço com muito gosto.
Estes gestores, se atuarem como gestores de custos “de verdade” ... não apenas como “calculadores de custos” ... não vão apenas manter a rentabilidade dos produtos ... acreditem !
Em muitos casos vão chegar à conclusão de que podem desenvolver produtos de saúde mais baratos se for modificada a matriz de custos de um produto:
· Modificando o POP de um produto ... substituindo algum insumo por outro ... modificando o processo ... reduzindo algumas etapas do processo ...
· ... o custo do produto pode ser reduzido;
· Reduzindo o custo do produto, pode-se reduzir o preço de venda e/ou aceitar o preço que uma fonte pagadora propunha, a gente não aceitava achando que era inviável e não era ... aumentando a produção daquele produto ... aumentando a rentabilidade;
Estas “coisas”, quando trabalhadas de forma profissional ... por pessoas com competência adequada ... acabam aumentando o acesso da população à saúde ... é isso que importa para os gestores que atuam no segmento.
Fica a pergunta: isso realmente está sendo feito na empresa ?
Consultoria e Coaching de Carreira para gestores na área da saúde privada e pública www.escepti.com.br
Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde para gestores da saúde privada e pública www.cpgs.net.br
Jornada da Gestão em Saúde de cursos abertos e “in company” www.jgs.net.br
Lista de milhares de profissionais certificados www.escepti.com.br/certificados
Conteúdo especializado para gestores da área da saúde privada e pública www.noticia.net.br
Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e seminários temáticos www.gesb.net.br
Modelos para gestão em saúde (livros gratuitos para download) www.escepti.com.br
Contato contato@escepti.com.br
Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado