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Planejamento de saúde em época de crise na regulação e financiamento

0410 – 09/03/2025

Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Piorando gradativamente a regulação, aumenta a necessidade de planejamentos mais aderentes às mudanças de cenários

 

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

O ano letivo começou “mais quente que nunca”.

Não somente pelas “ondas de calor” que até já suspenderam aulas em cidades de norte a sul do Brasil, mas pela intensidade de aulas mesmo antes do Carnaval (quem diria – antes do ano começar no Brasil !).

Fui brindado com convites para ministrar aulas em 3 turmas de pós diferentes do Einstein, que sempre me obrigo a agradecer a oportunidade para as Profas. Glauce Roseane de Almeida Brito e Deise de Carvalho ... muito obrigado ! ... e também em um programa da capacitação junto ao Hospital das Clínicas de Botucatu – UNESP, em que tenho a honra de representar o HCx (Complexo HCFMUSP), meu atual vínculo profissional junto a FFM – Fundação Faculdade de Medicina.

Na pauta falar sobre planejamento, fraudes, riscos, faturamento, uso de tecnologia em Auditoria ... em disciplinas que “mais que flertam” com a gestão das receitas e de custos em hospitais ... temas que um "nerd" em gestão em saúde pública e privada como eu “mais que adora”.

A figura ilustra uma das dezenas de parâmetros de um cenário que está escancarado em números, demonstrando que a gestão da saúde mudou completamente, mas infelizmente boa parte dos profissionais que atuam em gestão da saúde não estão se atentando:

·         Contabilizando a evolução da quantidade de estabelecimentos de saúde (hospitais, clínicas, laboratórios, consultórios ...) existentes no Brasil, “o CNES” quase dobrou de tamanho em 7 anos ! ... fantástico !!

·         Mas não dobrou a população brasileira em 7 anos, que demanda os serviços de saúde no SUS e na Saúde Suplementar ! ... o crescimento da população nos últimos 7 anos foi muito discreto ... por mais esforços que a gente possa fazer para exagerar, não chega a 5 %, contra os 100 % do CNES !

·         Beneficiários de planos de saúde então, menos ainda ... nem 2 % ... e “vira e mexe” aparece gente “comemorando na mídia” quando observa a pífia evolução, que já é absurdo ... e mais absurdo ainda quando nem se considera a abrangência do produto que está elevando “a merreca do crescimento”. Em breve vamos ver mais gente comemorando aumento se considerar que são beneficiários dos novos planos ambulatoriais, que não atendem emergências, internações, exames de média e alta complexidades ... é só aguardar para ver !

Temos um contingente cada vez maior (proporcionalmente “falando”) de pessoas envolvidas em planejamento que não conhecem minimamente os sistemas de financiamento para dar “alguma contribuição” em projetos de financiamento e planejamento ... fazendo com que a maioria dos projetos se baseiem em uma realidade que já deixou de existir há mais de 10 anos ! .. uma pena !!

Quando se fala em custo da saúde ... em inflação da saúde ... por exemplo, sempre associam ao “envelhecimento da população”:

·         Não é errado ... mas é completamente errado quando se considera apenas este parâmetro ou se atribui a este parâmetro o de maior peso na evolução dos custos da saúde ... porque não é !

·         Basta ver a ilustração e perguntar: dobrou a quantidade de serviços de saúde porque dobrou a quantidade de idosos ? ...

·         ... não ... é claro que não !

·         O crescimento da proporção de idosos é fato, mas está longe de ser a maior causa da inflação da saúde ... o aumento de idosos está proporcionalmente “anos luz” abaixo do aumento de serviços de saúde.

 

 

São vários os fatores que inflacionam a saúde além do envelhecimento da população. É fácil perceber nesta época em que baixo informações do CNES, SUS, ANS, IBGE ... e atualizo o estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil.

A figura ilustra um dos “vários e vários” outros ... é a evolução % de tipos de profissionais que atuam na área da saúde ao longo dos mesmos 7 anos, separando em 3 grupos: médicos, enfermeiros e todos os profissionais assistenciais.

A linha azul demonstra que em relação ao total de profissionais que atuam na saúde, o % de profissionais assistenciais, vai diminuindo:

·         Ou seja, a área da saúde vai “aportando” proporcionalmente cada vez mais profissionais que não são médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos ...

·         ... vai aportando proporcionalmente cada vez mais administradores, engenheiros, advogados, economistas, atuários, e outros profissionais que quando uma nova regulação é feita, acaba necessitando de maior empenho de profissionais que “estão longe do paciente” !

·         E naturalmente isso custa !

A linha verde demonstra a evolução proporcional dos enfermeiros e afins em relação ao total de profissionais assistenciais:

·         Vejam que dado mais significativo: proporcionalmente tem aumentado !

·         É uma das “mãos-de-obra” mais caras ... poderia / deveria ser ainda mais cara devido a sua especialização e responsabilidade na atenção dos pacientes ... mas é inegavelmente cara;

·         Os procedimentos vão aportando mais profissionais qualificados além do médico, conforme o tempo passa;

·         E naturalmente isso custa !

A linha vermelha “coloca uma pá de cal” em quem não observa o óbvio:

·         Demonstra a evolução % dos médicos em relação ao total de profissionais assistenciais;

·         Que diminui ao longo do tempo !!!!!

·         O centro da medicina é o médico tratando do paciente: diagnosticando, definindo a conduta, prescrevendo, realizando o procedimento, avaliando o resultado ... o médico cuidando do paciente é o centro de tudo que acontece na medicina ... é o centro de tudo que acontece nos sistemas de financiamento da saúde (SUS, Saúde Suplementar Regulada e Saúde Suplementar não Regulada);

·         Tudo que está em torno disso são oportunidades de negócios que exploram a atividade do médico !

·         Diminuindo proporcionalmente a quantidade de médicos, em sistemas de financiamento da saúde “que entregam cada vez mais procedimentos para a população”, é claro que significa que estamos “embarcando” cada vez mais custos ao custo que originalmente era apenas o custo do médico;

·         E naturalmente isso custa !

 

 

Sempre procuro passar que se tenho alguma coisa a contribuir na formação de gestores, como no caso das aulas para o Einstein, ou no desenvolvimento de planejamentos estratégicos, como no caso de Botucatu, é a necessidade de sempre colocar em primeiro plano o contexto, e utilizar ferramentas que não deixem a gente desviar deste contexto ... senão o plano não será plano: será sonho !

É importante entendermos que SUS e Saúde Suplementar passam por um momento de crise na regulação:

·         No âmbito do SUS, basta entender que as verbas parlamentares são proporcionalmente cada vez maiores em relação à evolução da arrecadação dos impostos, enquanto as verbas nativas do SUS são proporcionalmente cada vez menores, impondo a necessidade de uma gestão política dos recursos cada vez mais profissionalizada;

·         No âmbito da saúde suplementar, basta entender que a ANS caiu na sua própria armadilha de não ter foco nem no beneficiário, nem no plano de saúde ... regulando as operadoras, e não a assistência à saúde;

·         Enquanto a base da discussão de financiamento não for a pauta, a crise tende a se agravar ... e não temos nenhum indício de que esta discussão esteja próxima de acontecer ... infelizmente !

Nas discussões fica simples entender porque, por exemplo, porque utilizamos o Canvas como ferramenta básica, e não SWOT, que é uma das ferramentas auxiliares após a estruturação do Canvas:

·         Quem parte da SWOT colocando a instituição como “pano de fundo” e não o quadrante correspondente do Canvas, invariavelmente vai levar o planejamento para caminhos que não espelham a real cadeia de valores da instituição;

·         É comum na área da saúde, por exemplo, quando se parte da SWOT como base, colocar o corpo clínico de um hospital como força ou fraqueza, e definir uma série de ações que não aderem na prática ...

·         ... porque o corpo clínico não é um elemento que tem a mesma característica estratégica em todos os aspectos da cadeia de valores ... em todos os quadrantes do Canvas ...

·         ... pode ser força no quadrante proposta de valor, e fraqueza no quadrante rede de parceiros ... ou ser força no quadrante rede de parceiros e fraqueza no quadrante relacionamento com clientes ...

·         ... e assim por diante !

No programa de capacitação de Botucatu:

·         Quase metade do início do programa deu foco no cenário atual dos sistemas de financiamento (SUS, Saúde Suplementar Regulada, Saúde Suplementar Não Regulada) ...

·         ... para só depois discutirmos regras, melhores práticas ...

·         ... e para só depois nas oficinas discutirmos o planejamento dando foco nos “quadrantes do Canvas” estruturados a partir de checklists que os participantes foram produzindo ...

·         ... e nas discussões de cada quadrante, que formam o foco do programa, aplicar SWOT e outras ferramentas auxiliares !

É claro que em determinadas oficinas, por exemplo, os médicos serão “força”, enquanto em outras, serão “fraqueza” ... a metodologia adequada dá a possibilidade de análises 360 º em cada eixo temático ! ... e paradoxos, dependendo do contexto e de cada segmento de análise (eixo) são normais ... são esperados !

 

Bem ... não sei quanto tempo Deus ainda vai me dar “força e alguma lucidez” para ministrar aulas e participar de projetos ... mas fico extremamente grato por estar tendo estas oportunidades ainda.

Porque estas coisas, que muita gente “rotula” como atividades de burocratas da saúde, tenho a convicção de serem muito importantes para aumentar o acesso da população aos recursos de saúde:

·         Sem recursos financeiros não se faz nada !

·         Os recursos são limitados, seja no SUS seja na Saúde Suplementar Reguçada, seja na Saúde Suplementar Não Regulada;

·         Então, fazer tudo o que é possível para empenhar os recursos da forma mais eficiente possível e maximizar o que se pode entregar de assistência à saúde para a população;

·         É disso que o texto trata !

No programa do HC de Botucatu discutimos, entre muitas outras coisas, a evolução dos leitos do SUS e da Saúde Suplementar em Botucatu e Bauru, como demonstra a figura:

·         Porque não dá para planejar alguma coisa em hospital sem entender o posicionamento dele no mercado ...

·         ... sem entender porque em cidades tão próximas a evolução possa ser tão diferente ...

·         ... e investigar as diferenças de cenário, para somente então pensar em definir alguma estratégia.

Enquanto tiver força e alguma lucidez, vou continuar “me deliciando” em poder me dedicar ao máximo para fazer parte do desenvolvimento da gestão da saúde ... mesmo sabendo estar contribuindo de maneira muito modesta ... mas no fundo sabendo que alguma coisa deste trabalho serve para melhorar o acesso das pessoas à saúde, em especial no SUS.

Consultoria  e  Coaching de Carreira  para gestores na área da saúde privada e pública  www.escepti.com.br

Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde  para gestores da saúde privada e pública     www.cpgs.net.br

Jornada da Gestão em Saúde de cursos abertos e “in company”  www.jgs.net.br

Lista de milhares de profissionais certificados   www.escepti.com.br/certificados

Conteúdo especializado para gestores da área da saúde privada e pública  www.noticia.net.br

Geografia Econômica da Saúde no Brasil, e seminários temáticos  www.gesb.net.br

Modelos para gestão em saúde (livros gratuitos para download)  www.escepti.com.br

Contato  contato@escepti.com.br

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado