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Panorama da Saúde Suplementar para Hospitais

0415 – 13/04/2025

Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil

Nunca a concorrência entre hospitais na saúde suplementar esteve tão acirrada !

 

(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti

Ontem tive a honra de ministrar aulas em mais uma turma de pós-graduação da Faculdade do Hospital Albert Einstein ... sempre orgulhoso pelo convite feito pelas Profas. Glauce Roseane de Almeida Brito e Deise Almeida ... muito obrigado !

Das disciplinas Panorama da Saúde no Brasil, e Riscos e Fraudes na Saúde, acho que vale a pena comentar sobre o desafiador panorama para hospitais que atuam na saúde suplementar.

É oportuno comentar isso na época em que a ANS divulga o seu “panorama anual da saúde suplementar”.

Sempre peço que os mais jovens ... e os que estão se especializando de forma geral em gestão da saúde ... “se perguntem”: quem escreveu isso ou aquilo, está representando quem ? ... qual o interesse da pessoa que “falou” sobre isso ou aquilo ?

A ANS, é claro, tem interesse em demonstrar aquilo que fez / faz de melhor ... vamos combinar: comentaria sobre o que não lhe é favorável “gratuitamente” ?

·         Se voce escutar alguém da ABRANGE, ou da UNIDAS, ou da Unimed, ou da FEHOSP, ou do CFM ... ou de qualquer outra entidade representativa ... representando uma associação de instituições ... é mais do que evidente que haverá o viés de querer dar foco naquilo que a sua instituição fez de bom ... discursar sobre pleitos de interesse da associação e dos associados ...

·         ... sempre tem o viés de, mesmo que não de esconder, de não expor aquilo que pode “ir na contramão” dos interesses da instituição e/ou das suas associadas que representa ... não é verdade ?

Sempre digo então que em salas de aulas ... “tirando a camisa” de funcionário, colaborador, sócio, associado ... tirando a camisa do vínculo profissional atual que temos ... nos papéis de alunos que todos representamos em sala de aula (também os professores, é importante dizer) ...

·         ... temos uma oportunidade única de discutir cenários, riscos e oportunidades reais do mercado, com o mínimo de viés possível ... da forma mais isenta possível;

·         Para aprendermos uns com os outros as nuances que permitem que a gente possa contribuir para uma melhor gestão da saúde ... pública ou privada;

·         A vida é um eterno aprendizado, e quando falamos de saúde suplementar “bota eterno nisso” !

Os dados do manual da ANS deixam de forma subliminar algumas realidades do segmento da saúde suplementar, que configuram um cenário absolutamente desafiador, não experimentado pelas instituições que “militam” no segmento há poucos anos atrás ! ... especialmente para os hospitais que prestam serviço para operadoras de planos de saúde !!

Os dados, coletados no próprio site da ANS e do CNES, não deixam dúvida “do tamanho” do desafio ...

O gráfico de cima da figura demonstra a evolução do volume de beneficiários da saúde suplementar regulada pela ANS entre 2019 e 2024 (pré e pós pandemia):

·         Apresenta um crescimento de 11% que deve ser analisado com muita cautela !

·         Uma boa parte deste crescimento vem de beneficiários que já tinham plano de saúde, mas não de operadoras reguladas pela ANS;

·         Tem gente que comemora este crescimento afirmando que a saúde suplementar cresceu;

·         A saúde suplementar geral pode até ter crescido mas muito ... muito menos que isso ... não temos o indicador justamente porque parte da saúde suplementar não tem regulação ... não temos números para analisar;

·         A saúde suplementar regulada teve este crescimento pífio, mas a saúde suplementar total ou não cresceu ou diminuiu de tamanho ... não temos o que comemorar em relação ao acesso da população à saúde privada ... infelizmente;

·         Mas, vamos trabalhar com este crescimento de 11 % da saúde suplementar regulada, mesmo assim, para definir o cenário real !

Os demais gráficos começam a demonstrar o cenário desafiador para quem atua em gestão da saúde ...

A oferta de médicos na saúde suplementar cresceu mais de 40 % !

·         Não é a oferta de “pessoas físicas” ... é a oferta de postos de trabalhos de médicos em que temos um médico a disposição, uma vez que um médico pode atuar em diversos postos de trabalho em um mesmo “período de tempo”: consultório, plantonista, cirurgião, hospital A e Hospital B, e assim vai !

·         Cresceu bem mais que a quantidade de beneficiários de planos que demandam a existência de médicos na saúde suplementar !!

A oferta de leitos cresceu quase 14 % ...

·         ... sendo que a oferta de leitos de UTI cresceu “impressionantes mais de 42 %” ! ... muito ... mas muito mais que o crescimento de beneficiários que demandam a utilização de UTI !!

·         Temos então proporcionalmente o crescimento da oferta de leitos maior que o crescimento de quem demanda a utilização dos leitos (os pacientes) !

Em um "economês" simples: cresceu muito mais a oferta do que a demanda ... ou seja, "aumentou assustadoramente" a concorrência entre serviços de saúde (no caso, os hospitais), e entre quem realiza os procedimentos (no caso, os médicos) !!!

Temos um cenário de concorrência entre hospitais que jamais experimentamos na saúde suplementar !!!!

 

 

E neste cenário de aumento da concorrência entre “os fornecedores” das operadoras, elas (as operadoras), na média, mas não todas como se apresenta o viés do relatório da ANS, é bom que se diga, estão muito mais profissionalizadas do que eram para “aproveitar a oportunidade” que a concorrência lhes oferece.

O gráfico da esquerda demonstra:

·         Que a relação despesas assistenciais (que é o que se gasta com os tratamentos) em relação à receita de contraprestação (que é o que se cobra dos beneficiários) tem se mantido muito regular ... piorou apenas 0,4 %;

·         Vamos tirar o viés ? ... na média geral, até como demonstra o relatório da ANS ... mas temos ainda uma grande parcela de operadoras que não estão conseguindo manter esta estabilidade;

·         Tem operadora “vendendo o almoço pra pagar o jantar” ... ao Deus dará !

O gráfico superior já demonstra uma diferença de desafio para as operadoras em relação ao anterior:

·         Se comparamos as receitas totais, com as despesas totais, na média geral a rentabilidade operacional “caiu” 5,2 %;

·         Qualquer empresa, de qualquer segmento, de qualquer tamanho ... que tem uma queda de margem de 5 % sabe o quanto isso é danoso para a sua sustentabilidade financeira !

E o gráfico inferior direito demonstra “o maior fantasma” da saúde suplementar:

·         A evolução do ticket médio mensal assistencial no período ... a inflação da saúde sob o ponto de vista das operadoras, cresceu 34,1 % na média geral;

·         De novo ... parte das operadoras tem inflação menor que esta ... este número carrega o perfil das grandes, que como têm uma parcela significativa da quantidade total de beneficiários acaba, sendo “as maiores influenciadoras” do indicador ...

·         ... mas a maioria absoluta das operadoras, que são menores, tem indicadores de inflação muito superiores ... as que não conseguem repassar esta tendência para o preço, especialmente as autogestões, têm um desafio enorme.

As operadoras mais preparadas, neste cenário desafiador de gerir sua sinistralidade, se aproveitam da crescente concorrência entre hospitais para naturalmente conter o reajuste de preços dos hospitais e médicos ... é a maior “arma” que possuem, que vai “aumentando de calibre” conforme a concorrência vai ainda mais se expandindo !

Vamos lembrar que, em qualquer sistema de financiamento da saúde, pública ou privada, metade da sinistralidade ocorre na média e alta complexidades ... cuja maioria se relaciona com internação !

 

 

O principal desafio dos hospitais tem sido “trocar” a rentabilidade unitária de cada procedimento que realiza, pelo aumento de produção para compensar a redução da margem individual de cada procedimento que realiza ... tão simples quanto isso !

O gráfico demonstra este movimento:

·         Tanto as linhas azuis que “plotam” a evolução do número de hospitais sinaliza que temos cada vez mais hospitais ... e de todos os portes (até 50 leitos, entre 50 e 100, entre 100 e 200 ...) ...

·         ... como as linhas laranjas de número de leitos;

·         Além de termos mais hospitais, os que atuam na saude suplementar para manter sua sustentabilidade financeira estão aumentando sua capacidade de leitos para poderem produzir mais !

·         Na lei da oferta e da procura, não existe segredo em relação ao que se deve fazer, seja lá quando voce vende carro, sanduíche, pinga ou herniorrafia ...

·         ... o que se tem a fazer quando a margem unitária cai, é vender mais para compensar !!

Ah ... mas se o cenário fosse só este ... operadoras de um lado e hospitais do outro !

Não é ! ... não é mesmo !! ... não é mais o mesmo !!! ... a saúde suplementar mudou muito em pouquíssimos anos, e boa parte dos gestores ainda não se deu conta disso !!!!

A saúde suplementar, que sempre foi complexa, agora é ainda mais complexa ... é muito mais desafiadora ... gestão da saúde suplementar é fantástica e motivadora ... para quem gosta, não canso de dizer !

Este crescimento de hospitais e leitos:

·         Vamos lembrar que parte deles são das próprias operadoras;

·         A Hapvida, por exemplo, se “vangloria em declarar em verso e prosa” que vai atingir a marca de 100 hospitais próprios e pouco tempo ... uma verticalização “pra ninguém botar defeito”;

·         E estes hospitais não têm como objetivo manter o lucro aumentando preços para garantir a margem de contribuição dos “produtos que vendem”;

·         Muito pelo contrário, existem para reduzir o custo da operadora e reduzir “o mercado” dos hospitais que não tem vínculo com operadoras ... realizar procedimentos rapidamente e girar os leitos “absurdamente” para “execrar” o custo fixo.

E a verticalização não é mais “o assunto do momento” entre as operadoras ... o mercado mudou !

As manchetes ilustram uma realidade que é diferente do que a maioria das pessoas ainda pensam:

·         As operadoras não trabalham apenas para “verticalizar” serviços de saúde próprios;

·         Com o passar do tempo estão trabalhando em modelos disruptivos de negócios, que não mantém operadora de um lado e hospitais do outro ... trabalham em fusões, troca de ações societárias ...

·         ... transformando totalmente o mercado, onde é possível, de modo que operadora e hospital não estão em lados opostos;

·         Operadoras e hospitais estão cada vez mais se sentando do mesmo lado da mesa como se fosse “a foto da Santa Ceia” ... todo mundo de um lado só ! ... se é que me entende !!

Amil e Dasa, Bradesco e Mater Dei, Sulamérica e D’Or ... modelos que “fundem” negócios e vão desenhando um cenário bem diferente do “pano de fundo geral” do panorama desenhado pela ANS:

·         É bom ressaltar: o panorama definido pela ANS não está errado ... não há que se criticar ... vamos deixar bem claro;

·         Apenas a citação de que é um panorama, sob o ponto de vista de uma instituição, que tem seus interesses em enfatizar a divulgação de algumas coisas, e não dar foco na divulgação de outras ... apenas isso !!

·         Estes modelos “disruptivos” vão exigir algumas regulações que naturalmente, como são recentes e disruptivos, não temos ainda ... e a agência reguladora (a ANS) “uma hora ou outra” terá que se posicionar, porque quem é do ramo conhece bem o que as operadoras podem (não estou dizendo que fazem ... apenas que podem) fazer com a apresentação da sinistralidade “coletada” nas redes próprias e nos parceiros de fusões ... se é que me entende, sabendo que a maioria dos gestores certamente não entende exatamente o que é !!!

Vou confidenciar uma coisa:

·         Há poucos anos, durante a pandemia, desenvolvi para quatro indústrias do segmento da saúde programas de capacitação para a área de vendas ... fiz para uma que acabou indicando para outra e outra ...

·         Nos cursos, uma das coisas que citei foi a necessidade de mudar a segmentação tradicional dos clientes nas áreas de vendas, que normalmente sempre foi uma equipe para os hospitais públicos e outra equipe para os hospitais privados;

·         Comentando sobre o avanço da verticalização e das fusões entre operadoras e serviços de saúde, sinalizei que passa a ser mandatório pelo menos 3 equipes: uma para o público, uma para os hospitais de rede própria de operadoras (incluindo os de fusões) e outra para os demais hospitais;

·         Das quatro, mantive contato próximo apenas com uma, que fez isso ... e deu muito certo ... não sei afirmar se as outras fizeram, mas acredito que, pelo nível de profissionalização delas, tenham feito também;

·         A interlocução com estes 3 tipos de hospitais é totalmente diferente ... não é possível que as indústrias não se equipem com equipes diferentes !

Bem ... voltando para hospitais ... tudo isso deixa mais desafiadora ainda a gestão dos hospitais que atuam na saúde suplementar e não se vinculam a uma operadora ... devem continuar mudando completamente o perfil de oferta dos produtos e de posicionamento no mercado, inclusive na relação que têm com seus principais fornecedores, acho que me fiz entender pela “confidencialização”.

E precisamos de mais gestores ... de mais gestores melhores capacitados ... para equacionar os modelos de negócios dos vários cenários, e para poderem atuar de modo a sempre terem como objetivo principal proporcionar o máximo de acesso possível dos beneficiários de planos de saúde aos recursos que a medicina tem.

É o que motiva a gente a continuar dando aula em turmas de pós ... a continuar escrevendo textos como este ... “comendo um pedaço” dos fins de semanas da gente ... quanto mais gestores tivermos com capacidade analítica de ler um relatório da ANS e identificar os vieses, melhor para todos nós !

Consultoria  e  Coaching de Carreira  para gestores na área da saúde privada e pública  www.escepti.com.br

Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde  para gestores da saúde privada e pública     www.cpgs.net.br

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Contato  contato@escepti.com.br

 

Sobre o autor Enio Jorge Salu

CEO da Escepti Consultoria e Treinamento

Histórico Acadêmico

·  Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

·  Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo

·  Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas

·  Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta

·  Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed

Histórico Profissional

·  Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas

·  Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares

·  CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa

·  Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

·  Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas

·  Associado NCMA – National Contract Management Association

·  Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde

·  Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias

·  Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado