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A Mudança no Perfil dos Leitos no SUS e na Saúde Suplementar
0417 – 17/05/2025
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Leitos para maior complexidade cada vez mais repaginando o planejamento estratégico da saúde
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Nesta semana tive a honra de fazer a “entrega simbólica” do plano de ação para melhoria das receitas do SUS e da Saúde Suplementar no Hospital das Clínicas de Botucatu, oportunidade que agradeço ao Prof. José Carlos Souza Trindade Filho, o Zeca – superintendente, e à equipe de planejamento, Patrícia, Fabio, Luciane, Cristiane e Dr Carlos.
Para um graduado na UNESP e pós-graduado na USP como eu, desenvolver um projeto pelo HCx da USP em um HC da UNESP traz uma satisfação ainda maior, por isso agradeço também a Gisleine Cristina Eimantas, diretora do HCx !
O HC de Botucatu, como uma infinidade de outros hospitais, está tendo a necessidade de se reposicionar nos mercados da saúde pública e privada, porque eles mudaram “da água pro vinho” nos últimos anos:
· Se engana que mudou a saúde suplementar e o SUS não !
· O próprio financiamento do SUS mudou muito ... por exemplo, cresceu muito mais proporcionalmente as verbas parlamentares que o orçamento do SUS ... e uma boa parte das verbas parlamentares vão para a saúde, em projetos “que dão voto” ... ou seja, a gestão do SUS está exigindo que os gestores “se articulem” mais com os parlamentares para captar este importante recurso ... há anos atrás o relacionamento com o SUS se dava quase totalmente no âmbito do poder executivo, nas regras de pactuação definidas exclusivamente no SUS.
O grupo que tive a honra de participar para formular a proposta de ações estratégicas para melhoria da sustentabilidade das contratualizações com o SUS, com as operadoras e com demais instituições da área privada, inseriu entre as 13 ações estratégicas “Dinâmica Ativa de Captação de Emendas Parlamentares”.
As ações se dividem entre SUS, Saúde Suplementar Regulada e Saúde Suplementar Não Regulada ... aliás, vou ter a honra agora nesta semana seguinte de palestrar na Hospitalar, pelo HCx da FMUSP, sobre “Saúde Suplementar Regulada e Saúde Suplementar Não Regulada” ... espero todos que puderem ir lá “dar uma força” !
Para ilustrar neste texto o tamanho da evolução da mudança dos mercados da saúde pública e privada, escolhi falar sobre leitos hospitalares:
· O gráfico da esquerda demonstra a evolução do volume de leitos ... o total de leitos e o total de leitos de UTI;
· O gráfico da direita demonstra a proporção entre o volume de leitos tipo UTI e o volume total de leitos;
· Em um período que “bagunçou” a utilização de leitos de UTI por conta da pandemia ... e a bagunça já passou ... a proporção de leitos de UTI sobre o total avançou mais de 2 % ! ... já descontando o pico que ocorreu na pandemia !! ... era de 6,7 % no geral, passando para 8,8 % !!!
Para quem não lida profissionalmente com gestão de saúde essa evolução pode parecer pouco, mas vamos entender que leito de UTI significa custo operacional muito ... mas muito maior que o custo operacional dos demais leitos.
Em um outro texto me comprometo a explorar esta relação de leitos com salas cirúrgicas para realçar o que estamos discorrendo aqui sobre a mudança estrutural dos custos da saúde ... pública e privada.
Os gráficos anteriores totalizavam SUS e Saúde Suplementar ... este estratifica:
· Vemos que proporcionalmente existem mais leitos UTI sobre o total na saúde suplementar que no SUS;
· E que o aumento proporcional ao longo do tempo também é maior na saúde suplementar do que no SUS;
· A saúde suplementar, definitivamente, vem experimentando uma escalada de custos com internações proporcionalmente muito maior do que a do SUS !
Estes números têm alguns vieses ... por exemplo:
· Existem inúmeros hospitais em que o leito de UTI é compartilhado entre o SUS e a Saúde Suplementar;
· Isso não é crime, muito pelo contrário, é absolutamente lícito e necessário para otimizar os recursos da área da saúde pública e privada;
· É comum nos hospitais que atendem SUS e Saúde Suplementar ter recepção e unidades de internação convencionais separadas para SUS e Saúde Suplementar ... mas UTI, sala cirúrgica, RPA, farmácia e demais áreas hospitalares não faria sentido algum fazer isso !
Todos os vieses são insignificantes em relação à análise que estamos fazendo neste texto.
O perfil de leitos mudou significativamente nos últimos anos, consequentemente mudando o perfil de receitas e custos do segmento ... e obrigando os planejamentos estratégicos a mudarem o posicionamento estratégico tanto dos hospitais, como das fontes pagadoras em relação ao mercado de forma bem mais significativa do que antes.
O gráfico da esquerda demonstra que a quantidade total de leitos do SUS continua sendo muito maior que a da saúde suplementar ... na verdade, pela inclinação das curvas, demonstra que a tendência é de maior crescimento geral de leitos no SUS do que na saúde suplementar.
Mas analisando o contexto ... e Deus é testemunha de quantas vezes cito a necessidade de sempre analisar o contexto para concluir alguma coisa na gestão da saúde ... quando juntamos a informação de que proporcionalmente os leitos UTI sobre total estão cada vez maiores na saúde suplementar em relação ao SUS, podemos chegar à conclusão de que o SUS tem ofertado cada vez mais leitos para média complexidade ... proporcionalmente menor na alta complexidade em relação a saúde suplementar.
Isso é fato ... por exemplo ... temos milhões de vezes mais leitos de psiquiatria no SUS do que na saúde suplementar ... não é verdade ? ... e cada vez mais proporcionalmente de psiquiatria no SUS do que na saúde suplementar ... proporcionalmente mais leitos para parto no SUS ... e assim vai !
A própria contratualização do SUS acaba “meio que fazendo” com que o sistema dê prioridade para média prioridade em detrimento a alta complexidade ...
· Sabe aquela FPO que especifica que voce tem que fazer 1.000 internações cirúrgicas nas especialidades A, B e C ?
· Bem ... dentro de A, B e C vou escolher fazer as internações cirúrgicas de menor custo ... ou voce faria diferente ?
Se não analisar este contexto, poderíamos comemorar o gráfico da direita que demonstra que o SUS continua evoluindo em número de internações:
· Mas é fato que as filas de internações para os procedimentos de alta complexidade vão ficando cada vez maiores;
· E, é claro, é fato também que, com toda a dificuldade de orçamento, o SUS vai mantendo as principais metas de volume “como manda o figurino” ... “como manda a regulação” !
· Mas com um orçamento cada vez mais apertado ... com uma tabela de preços congelada ... vamos naturalmente tendo “seletividade” naquilo que fazemos no SUS ... é inevitável !
O advento da SUS Paulista, por exemplo, agravou esta seletividade:
· Já que aumentou o preço de X e Y, e não aumentou de W e Z, a discussão da FPO tende a ser aumentar a meta de X e Y, e reduzir a meta de W e Z;
· Ou voce também faria diferente ?
· Vai conseguir renegociar assim ... bem ... o “não a gente já tem !” ... então ...
Em uma conversa com amigos, quando comentávamos sobre o já muito famoso hospital chinês quase todo robotizado e “IA”zado, se é que me entende, uma das coisas que falamos é a tendência de que um dia quase todos os leitos hospitalares serão do tipo UTI ... existirão raros leitos convencionais ... é fácil entender “a conversa de buteco”:
· Um amigo lembrou que no passado ninguém sabia datilografar e nem tinha máquina de escrever, e hoje até analfabeto sabe “teclar”, já que todo mundo tem celular;
· Outro lembrou que as casas tinham um telefone raramente com extensão ... a empresa tinha um único número com ramais e não havia ramal “pra todo mundo” ... dá pra acreditar ?
· Outro lembrou que existiu um tempo em que pessoas que trabalhavam em escritório não tinham cada um seu computador ... um professor da GV, diga-se de passagem, se notabilizou por lançar o indicador “número de teclados por funcionário”, para medir a evolução da gestão nas empresas, lembra disso ? ... e hoje todos tem pelo menos um computador na mesa, alguns inclusive com duas telas por computador, e ainda utilizando o celular simultaneamente ... olha, alguns com 2 celulares, tudo ao mesmo tempo !
Enfim, a tônica da conversa foi ... a tecnologia vai barateando e aumentando o acesso a ela ... e com UTI não haverá de ser diferente ... não é absurdo pensar que os leitos “no futuro” serão todos equipados com equipamentos de “manutenção da vida”, até muito mais sofisticados e “inteligentes” do que os que existem hoje !
Bem ... quando este dia vai chegar não sabemos ... mas já faço parte dos que acham que a pergunta não é “se vai chegar” ... é mesmo “quando vai chegar” !
Observando o gráfico ... fala sério ... não chega a ser assustador ?
· Enquanto a evolução total de leitos de internação em 7 anos foi de 22,4 % na SS e 17,5 % no SUS ... o que já é muito ...
· ... a evolução do total de leitos de UTI foi de 50,3 % no SUS ... impressionante ! ...
· ... e de 61,8 % na saúde suplementar ... quase inacreditável !
Uma mudança de mercado que poucos segmentos da economia podem ter orgulho de narrar !
Se não ficou claro ... não estamos enaltecendo o impressionante indicador que mostra que cresceu mais o número de leitos do que a população que utiliza os leitos ... estamos falando em um aumento exacerbado no número de leitos utilizados em tratamentos de alta complexidade ... não se trata apenas de uma expansão de mercado, mas essencialmente de uma mudança de perfil do mercado.
Um leito de UTI “puxa ou é puxado” por aumento de procedimentos em centro cirúrgico, no aumento de profissionais especializados em medicina intensiva onde, pelo menos se supõe, que o caso do paciente é mais grave, ou exige maior atenção ... se aumentasse proporcionalmente o número de leitos de UTI ao total de leitos seria uma coisa ... aumentando mais ... muito mais ... o de leitos de UTI em relação ao total é algo completamente diferente !
Por isso que “um nerd em gestão de saúde como eu” comemorou tanto no início do texto a honra de participar do projeto HC de Botucatu UNESP e HCx do Complexo FMUSP !
É impossível desenvolver um plano estratégico olhando somente “para dentro de casa” ... hoje é obrigatório primeiro olhar “pra fora da janela”, para depois definir o que podemos fazer “dentro de casa”:
· Como planejar, por exemplo, a oferta de internação em um hospital sem analisar a evolução da oferta de leitos dos outros hospitais da região na saúde suplementar ?
· Como negociar a FPO do SUS sem saber se o órgão gestor está com maior ou menor oferta de leitos dos outros hospitais que prestam serviços ao SUS ?
· Como um hospital pode pensar em expandir o relacionamento com a operadora X, sem primeiro entender o movimento da operadora em relação a verticalização e/ou fusão com outros hospitais ?
O Canvas do projeto (a figura) ilustra que foi construído com o grupo entendendo a necessidade de, inclusive, profissionalizar “este olhar para o mercado”.
Uma das outras ações entre as 13 definidas foi justamente criar uma estrutura adequada para coletar, analisar, disseminar e colocar em discussão os riscos e oportunidades do mercado ... fantástico ! ... tratar isso de forma amadora, pelo que se ouve dizer não tem mais espaço no planejamento estratégico da saúde “faz tempo” ... “faz muito tempo” !!!
Na metodologia do projeto, graças a Deus, o grupo “seguiu a cartilha”:
· Primeiro, cursos que equalizaram os conceitos básicos do mercado, e as melhores práticas de gestão;
· Na interação dos cursos as ações foram sendo formuladas naturalmente, a partir da tabulação das manifestações que todos apontaram em checklists;
· Conforme o próprio grupo foi sinalizando o que era mais preemente ... o que era mais necessário quando comparado com o que o mercado pratica ... sem qualquer pré direcionamento ... as ações foram tomando corpo;
· Depois, oficinas em que os próprios participantes criticaram as ações;
· Avaliaram a viabilidade de cada uma delas ... e definiram quem ... quais as melhores instâncias da organização ... para coordenar o desenvolvimento das ações.
E em 3 meses o plano se concretizou ... agora é “por a mão na massa”:
· Não somente com a definição de grupos para lidar com um tema e iniciar o brainstorming;
· As ações já estão definidas e com um nível de detalhamento que reduz a chance de perda de foco;
· Os grupos vão desenvolver as ações já definidas, já justificadas e com o escopo definido por pessoas que tiveram a chance de entender o tema nos cursos e oficinas.
Parabéns aos 91 envolvidos ! ... não tenho a menor dúvida do resultado que vão obter !!
E não tenho dúvida que o hospital está se equipando para “marcar homem e homem” as mudanças de perfil do mercado que virão por aí ... certamente continuarão a acontecer com maior velocidade.
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Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado