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A Difícil Missão de Inovar e Sustentar a Saúde
0419 – 31/05/2025
Ref.: Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, Geografia Econômica da Saúde no Brasil e Jornada da Gestão em Saúde no Brasil
Se o Governo entendesse saúde como desenvolvimento econômico teríamos mais inovação na saúde !
(*) todos os gráficos e ilustrações são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil e do material didático do Programa Cursos Profissionalizantes em Gestão da Saúde, dos cursos da Jornada da Gestão em Saúde e da Escepti
Primeiro iniciar explicando que “equipamentos” aqui são dispositivos elétricos, mecânicos ... não inclui o nome generalista de equipamentos que se dá a hospitais, UPAs, e outros serviços que são chamados na administração pública genericamente de equipamentos públicos.
Segundo explicar que “governo” aqui não se refere ao governo federal, estadual, distrital ou municipal ... ou apenas ao executivo ... mas ao “conjunto” executivo e legislativo em todos os âmbitos da administração pública.
Terceiro explicar que “governo” aqui não se refere a esta pessoa ou aquela pessoa que está na legislatura, mas a todos que estão e estiveram nos cargos há algumas décadas.
Isso posto ...
Podemos associar a evolução da inovação na saúde estudando a utilização de equipamentos:
· Embora inovação não necessariamente não esteja associada exclusivamente ao uso de equipamentos ... pode ser associada a utilização de uma nova tecnologia farmacêutica, ao desenvolvimento de um novo protocolo de realização de procedimento ... a uma série de coisas que não necessariamente envolve o uso de tecnologia ...
· ... o uso da tecnologia ... do equipamento ... é o refinamento / evolução de processos e procedimentos que sem o uso deles, ou não eram realizados, ou eram realizados de forma menos eficiente, eficaz, efetivo ...
Na área da saúde determinados procedimentos, especialmente diagnósticos, são impraticáveis sem equipamentos:
· Faltou equipamento ... procedimento não realizado !
· Tão simples quanto isso !!
Este gráfico demonstra algo que não é muito de se comemorar:
· Na linha azul, a evolução da quantidade total de equipamentos ... e isso é fantástico ! ... saber que, mesmo com todo o viés que a coleta de dados no CNES tem quando tratamos de todos os tipos de equipamento, em 7 anos dobrou o volume de equipamentos em uso na área da saúde ... é fantástico !
· Mas a linha cor de abóbora, que representa a evolução da quantidade destes equipamentos que estão disponíveis para o SUS, demonstra que a quantidade além de ser menor, ainda carrega tendência de ser cada vez menor se compararmos a inclinação entre as duas linhas.
A população dependente SUS é muito maior que a da saúde privada:
· Mas a quantidade de equipamentos no SUS é menor que a “não SUS”;
· É evidente que temos menos acesso aos diagnósticos e procedimentos no SUS por inadequação da quantidade de equipamentos disponíveis !
Se na saúde privada o acesso aos equipamentos já “não é uma maravilha”, é fácil entender o que ocorre em relação ao acesso na saúde pública ... no SUS, não é verdade ?
Evidentemente esta proporção entre SUS e não SUS não é a mesma para todos os tipos de equipamentos:
· Os gráficos demonstram que no caso de equipamentos para manutenção da vida (monitores, respiradores ...) ... o gráfico da esquerda ... a proporção de SUS é maior que no caso de PET/Scan ... o gráfico da direita;
· Em quantidade ... não per capita é claro ... é maior a oferta de equipamentos para manutenção na vida no SUS do que na saúde privada ... no caso de PET/Scan não !
Via de regra no SUS é assim se observarmos detalhadamente todos os tipos de equipamentos:
· Quanto mais caro e mais custoso para instalar e manter o equipamento funcionando, menor a proporção de disponibilidade para os beneficiários do SUS !
· É isso que sempre consideramos em projetos de consultoria ... que explicamos em aulas ... este é um parâmetro típico de deficiência do SUS que gera oportunidade na saúde privada;
· Se o SUS não oferece, e tem gente que pode pagar por isso, então “viva a saúde suplementar regulada e não regulada pela ANS” !
Uma parte disso, é claro, se deve ao curto orçamento do SUS:
· Mas uma parte, infelizmente, se deve às práticas antiéticas dos fornecedores que perdem a concorrência e buscam invalidar o processo de aquisição atrasando a incorporação de novos equipamentos na área pública ... muito infelizmente, diga-se de passagem !
· Uma outra parte se refere ao planejamento não adequado, “inflando” a existência de determinados tipos de equipamentos, até por questões que envolvem cartéis e fraudes, também infelizmente, em detrimento a incorporação de tipos de equipamentos de menor oferta em determinada região;
· E mais “um monte de problemas” que temos na administração pública no Brasil, que dificultam bastante a incorporação de tecnologia na saúde;
É bom ressaltar que não são problemas exclusivos da gestão da administração pública da saúde ... são “genéricos” da administração pública:
· E o governo (vamos lembrar do termo governo explicado lá em cima no texto) não desenvolve mecanismos para ajustar a legislação / regulação para combater efetivamente;
· Tem coisas relacionadas ao orçamento público e concorrências públicas que são de conhecimento de todos .. há anos ... há décadas ... o tempo passa e continua sempre da mesma forma ... uma minoria ... uma minoria muito pequena mesmo ... de interesseiros não permite a evolução de mecanismos para acabar com problemas mais do que conhecidos !
Este gráfico demonstra a proporção de disponibilidade dos equipamentos ao SUS por grupo.
Já analisando por grupo fica bem evidente a dificuldade de incorporar inovação no SUS quando comparamos com a inovação disponível na saúde privada:
· São poucos os tipos de equipamentos cuja proporção disponível no SUS é maior que na área privada;
· E, voltando a ressaltar, o SUS que atende 200 milhões de pessoas (no mínimo), enquanto a saúde privada menos que isso;
· Na verdade em relação ao uso de equipamentos sofisticados, cujo preço do procedimento é elevado, o equipamento mais inovador na prática fica disponível para uma parcela quase insignificante da população brasileira.
E ele mostra, também, como equipamentos utilizados exclusivamente em áreas específicas ... específicos de uma especialidade médica/odontológica ... são ainda “mais protagonistas” na área privada do que na pública:
· É o caso da odontologia, por exemplo;
· A maior parcela da população utiliza Odonto na área privada ... então percebemos no gráfico que apenas 29,3 % deles estão disponíveis no SUS;
· A odontologia é assim: nos procedimentos mais comuns, baixíssima inovação ... e baixíssimo uso de tipos de equipamentos ... quase nenhum nos procedimentos básicos da Odonto;
· Nos procedimentos mais complexos, que “se distanciam das meras restaurações dentárias” e avançam para correções estruturais da arcada dentária e/ou estéticas, altíssima tecnologia, para poucos que têm acesso à saúde privada ... e absolutamente escassos no SUS !
A tecnologia na saúde está muito mais presente algumas UFs Brasileiras do que em outras.
O gráfico da esquerda, por exemplo, demonstra a quantidade de mamógrafos em uso no Brasil:
· São Paulo tem quase 180 vezes mais mamógrafos do que a UF que tem menos, no geral ... impressionante !
· Mas se contarmos os que estão disponíveis para o SUS esta proporção cai para 110 vezes.
Apesar da quantidade de mamógrafos não ser algo para comemorarmos, pelo menos é bom saber que no SUS a diferença proporcional entre a UF que tem mais e a que tem menos é menor ... meio que significando que no caso do SUS existe “algum esforço” para equalizar o acesso a este tipo de equipamento.
Pelo menos isso !
Quando observamos o gráfico com a distribuição per capita de mamógrafos, o cenário é bem diferente:
· Nestes gráficos, São Paulo que tem o maior volume, não tem a maior relação per capita quando consideramos a quantidade em uso ! ... o gráfico da esquerda;
· E também não tem quando consideramos a quantidade per capita disponível ao SUS ... o gráfico da direita.
Vemos que, se considerarmos a quantidade per capita, São Paulo “está devendo mamógrafos” quando comparado a Pernambuco e Rio de Janeiro ... nestas 2 UFs a quantidade per capita de mamógrafos disponíveis para o SUS é impressionantemente maior que a não SUS !
Esse é o nosso SUS ... graças a Deus !
Na dificuldade de não ter quantidade adequada para ofertar a população, pelo menos tenta equalizar a oferta da forma mais adequada em relação a população de cada região !
Onde o administrador tem foco no planejamento e gestão da saúde pública, consegue alcançar coberturas mais próximas do que “seria o ideal” ... ainda não o ideal, é claro ... somos um país pobre com um sistema de saúde pública de país rico ... se é que me entende ... mas, dentro das possibilidades, mas mais próximas deste ideal !!
Em resumo, esta é a difícil equação de incorporar inovação e manter a sustentabilidade econômica ao mesmo tempo na área da saúde ... onde observamos um caso de inovação nunca podemos negligenciar o imenso trabalho de equacionar o custo x benefício deu para que “o milagre” pudesse ter acontecido ... a gente não pode nunca desprezar isso e achar que foi fácil ... não foi ... isso é líquido e certo !
Bem ... não dá para encerrar sem ressaltar que é uma grande pena que o governo (lembra da definição de governo do início do texto ?) não vê a saúde como fator de desenvolvimento econômico.
O gráfico demonstra que temos mais de 3 milhões de equipamentos em uso na área médica / odontológica no Brasil.
Imagine que em torno de cada equipamento temos ... ou podemos ter empregos para:
· Médico / dentista / biomédico ...
· Enfermeiro / auxiliar de enfermagem ...
· Técnico de manutenção ... engenheiro clínico ... calibrador ... aferidor ...
· Administrativo;
· Higiene e limpeza ... segurança ...
Alguns dos equipamentos, especialmente os de grande porte, “abrem vaga de emprego” para mais de um médico, mais de um enfermeiro, mais de um técnico ...
Lembrando que além desses temos empregos indiretos:
· Na indústria que fabrica o equipamento ... na que fabrica o insumo utilizado no equipamento ... na que desenvolve a infraestrutura para instalar o equipamento;
· Na logística de distribuição dos insumos ...
· Relacionados à fiscalização do uso do equipamento ...
· Na disponibilização das utilidades necessárias para o uso do equipamento (energia, ar-condicionado, água, gás ...);
· E mais tudo que envolve o relacionamento comercial entre o serviço de saúde que tem o equipamento e a fonte pagadora.
Se você for econômico e assumir que cada equipamento gera apenas 1 emprego, estamos “falando” de 3 milhões de empregos ! ... ~ 1,5 % da população brasileira !!
Se for realista e estimar que cada equipamento gera mais que um emprego, faça sua conta de quantos empregos estão envolvidos “aqui nesta prosa”, e depois me diga quais os raríssimos casos em que esta quantidade de empregos é gerada em outros segmentos de mercado ... se existir relação similar, certamente “vai sobrar dedos nas mãos” para contar !!!
Realmente uma pena que o governo entenda saúde como uma obrigação constitucional a ser cumprida e não como oportunidade de desenvolvimento nacional !
Expandir a oferta de equipamentos na saúde pública deveria ser uma estratégia de crescimento econômico, e não simplesmente uma “verba do plano de contas” para contabilizar o custo.
Quem sabe um dia ... pelo menos uma vez na história do Brasil ... vamos ter um governo (no sentido amplo da palavra e não restrito a discussões politizadas) ... vamos ter um governo que entenda o mercado da saúde como entendem países em que a saúde é um dos principais ... ou o principal ... contribuinte do PIB !
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Contato contato@escepti.com.br
Sobre o autor Enio Jorge Salu
CEO da Escepti Consultoria e Treinamento
Histórico Acadêmico
· Formado em Tecnologia da Informação pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo
· Pós-graduação em Administração de Serviços de Saúde pela USP – Universidade de São Paulo
· Especializações em Administração Hospitalar, Epidemiologia Hospitalar e Economia e Custos em Saúde pela FGV – Fundação Getúlio Vargas
· Professor em Turmas de Pós-graduação na Faculdade Albert Einstein, Fundação Getúlio Vargas, FIA/USP, FUNDACE-FUNPEC/USP, Centro Universitário São Camilo, SENAC, CEEN/PUC-GO e Impacta
· Coordenador Adjunto do Curso de Pós-graduação em Administração Hospitalar da Fundação Unimed
Histórico Profissional
· Pesquisador Associado e Membro do Comitê Assessor do GVSaúde – Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da EAESP da Fundação Getúlio Vargas
· Membro Efetivo da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares
· CIO do Hospital Sírio Libanês, Diretor Comercial e de Saúde Suplementar do InCor/Fundação Zerbini, e Superintendente da Furukawa
· Diretor no Conselho de Administração da ASSESPRO-SP – Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação
· Membro do Comitê Assessor do CATI (Congresso Anual de Tecnologia da Informação) do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Fundação Getúlio Vargas
· Associado NCMA – National Contract Management Association
· Associado SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde
· Autor de 12 livros pela Editora Manole, Editora Atheneu / FGV e Edições Próprias
· Gerente de mais de 200 projetos em operadoras de planos de saúde, hospitais, clínicas, centros de diagnósticos, secretarias de saúde e empresas fornecedoras de produtos e serviços para a área da saúde e outros segmentos de mercado